A Subnotificação de Mortes por Covid-19: Uma Realidade Alarmante no Brasil

A subnotificação das mortes por Covid-19 no Brasil, que voltou a ser discutida recentemente em uma reportagem da CNM Brasil, pode ser muito mais abrangente do que imaginamos. Casos como as mortes não notificadas pela Prevent Senior e pelo Hospital Samuel no contexto da pesquisa falsa com proxalutamida levantam sérias questões sobre a gravidade do problema estrutural de subnotificação no país. Um levantamento realizado pela organização global de saúde Vital Strategies sugere que o Brasil tem um índice de subnotificação de 24,6% das mortes por Covid-19 desde o início da pandemia, o que resultaria em quase 713 mil mortes, muito acima das 603 mil mortes oficialmente registradas.

Esse dado alarmante é baseado nas informações do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), que pertence ao Ministério da Saúde. A pesquisa utilizou dados de internações e óbitos relacionados à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), um quadro sindrômico caracterizado por diversos agentes etiológicos possíveis. O mais comum, especialmente em adultos, é o SARS-CoV-2, o vírus da Covid-19. Embora a SRAG não seja uma doença específica, ela é uma complicação da síndrome gripal, com sintomas que incluem febre alta, tosse, dor de garganta e dificuldades respiratórias graves, que resultam em baixa saturação de oxigênio.

O estudo da Vital Strategies corrobora os achados de estudos anteriores que já apontavam para um aumento anormal de casos de SRAG após a instalação da pandemia de Covid-19 no Brasil. Entre janeiro e maio de 2020, por exemplo, foram registrados 168 mil casos de SRAG, dos quais 52 mil foram atribuídos ao novo coronavírus, e 58 mil ficaram sem causa especificada. Esse aumento, se comparado ao número de casos de SRAG no ano anterior, de apenas 9,4 mil, reforça a suspeita de que a Covid-19 tenha sido a principal responsável pelo crescimento vertiginoso dos casos.

A insuficiência de testes para a identificação da Covid-19 no Brasil tem sido um dos principais fatores que contribuem para a subnotificação. Com a escassez de testes, muitos casos de SRAG não foram corretamente diagnosticados como Covid-19, levando a uma omissão nas estatísticas oficiais. Este cenário reforça a ideia de que uma parte significativa dos casos diagnosticados como SRAG foi, na verdade, causada pelo coronavírus, mas esses dados não foram registrados adequadamente.

Atualmente, o Brasil vive um momento de contrastes na luta contra a Covid-19. Embora o país tenha atingido uma cobertura vacinal significativa, com 70,76% da população tendo recebido pelo menos uma dose da vacina, ainda há um longo caminho a percorrer para aumentar a imunização completa. Apenas 48,19% da população recebeu todas as doses necessárias, e a vacinação de reforço ainda é uma meta distante para muitos.

A disparidade na vacinação entre os estados brasileiros também contribui para a desigualdade no enfrentamento da pandemia. Alguns estados, como São Paulo, atingem taxas de imunização mais altas, enquanto outros enfrentam dificuldades logísticas e culturais para garantir que todos recebam as doses necessárias. Isso reforça a ideia de que, além da subnotificação, a desigualdade no acesso à saúde e à vacinação continua sendo um desafio significativo no país.

A subnotificação das mortes por Covid-19 no Brasil tem um impacto profundo não apenas nas estatísticas, mas também nas políticas públicas e nas ações de controle da pandemia. Se o número real de mortes for significativamente maior do que o registrado oficialmente, isso pode comprometer os esforços do governo e das organizações de saúde para alocar recursos adequados e implementar medidas eficazes para combater o vírus. Além disso, a falta de transparência nos dados pode gerar desconfiança na população, dificultando ainda mais as ações de controle e prevenção.

No cenário mundial, o Brasil ocupa a segunda posição no número de mortes, com 602.727 óbitos confirmados, atrás apenas dos Estados Unidos. Embora os números no Brasil sejam alarmantes, também é importante lembrar que países como a Índia, o México e a Rússia enfrentam situações igualmente graves. A subnotificação pode ser uma realidade em outras partes do mundo também, e uma maior colaboração entre países e organizações de saúde é essencial para enfrentar a pandemia de maneira eficaz.

Em resumo, a subnotificação das mortes por Covid-19 no Brasil é uma questão complexa que envolve desde a falta de testes adequados até a desigualdade na distribuição de vacinas e recursos. A situação exige uma ação urgente por parte das autoridades de saúde para melhorar a transparência e garantir que todos os casos sejam corretamente registrados e tratados. Apenas com dados precisos e estratégias bem coordenadas será possível enfrentar a pandemia de forma eficaz e proteger a vida de milhões de brasileiros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.