Após 9 dias com a média móvel de mortes por Covid-19 abaixo de 500, o Brasil registrou uma nova queda, alcançando a marca de menos de 400 mortes diárias. Este número remonta ao dia 12 de novembro de 2021, quando o país atingiu uma média móvel de 365 mortes, sendo esse o último dia consecutivo em que a média esteve abaixo da marca de 300 mortes. Esse cenário é um reflexo positivo da diminuição da mortalidade, mas é importante contextualizar que a redução abrupta de 440 para 367 mortes diárias também pode estar ligada ao feriado prolongado de 12 de outubro, um fenômeno comum de subnotificação devido ao atraso nos registros.
Nos próximos dias, será possível analisar se a queda nas mortes por Covid-19 é uma tendência consolidada ou se, de fato, vivemos apenas um período de estabilidade nas taxas de óbitos. Independentemente disso, a situação traz à tona um debate crescente sobre a necessidade ou não de se universalizar a terceira dose da vacina contra a Covid-19, um tema que divide a opinião da comunidade científica. Para muitos especialistas, a administração da terceira dose fora dos grupos de risco seria desnecessária, já que a proteção gerada pelas duas primeiras doses permanece eficaz e duradoura por anos.
Embora a produção de anticorpos diminua ao longo do tempo, a imunidade adquirida com as duas doses da vacina continua a ser eficaz para prevenir casos graves e óbitos. Portanto, a recomendação da maioria dos especialistas é que a terceira dose seja reservada para grupos específicos, como idosos ou pessoas imunocomprometidas. Universalizar a aplicação da terceira dose, por outro lado, seria mais uma decisão política do que sanitária, o que levanta preocupações sobre a utilização de recursos que poderiam ser mais bem alocados para outras áreas da saúde, como o cuidado das pessoas que já sofreram sequelas da Covid-19.
Ademais, a pressão popular e a possível influência de interesses de laboratórios podem levar à adoção de políticas de vacinação que aumentem os custos, sem necessariamente trazer benefícios significativos à população em geral. Essa situação reflete uma desigualdade global no acesso às vacinas: enquanto países ricos investem em programas de revacinação, cerca de 50% da população mundial ainda não teve acesso à vacina contra a Covid-19. Esse desequilíbrio pode resultar na emergência de novas variantes do vírus, que podem colocar em risco a eficácia das vacinas, criando um ciclo vicioso de contágio e novas mutações.
No Brasil, a campanha de vacinação continua a ser um esforço gigantesco, com 70,23% da população já tendo recebido pelo menos uma dose da vacina. No entanto, o número de pessoas completamente imunizadas ainda é baixo, com apenas 46,86% da população recebendo a segunda dose ou a dose única. A terceira dose foi aplicada em 2,47 milhões de pessoas até o momento, um número que ainda está longe de atender à necessidade de uma cobertura vacinal mais abrangente e robusta.
A questão da terceira dose também se reflete em uma escolha estratégica sobre onde alocar recursos limitados, especialmente em um contexto global de desigualdade. Para países ricos, a revacinação pode ser uma prioridade, mas a vacinação universal nos países em desenvolvimento ainda é uma meta distante. Sem uma abordagem coordenada e global, o risco de novas variantes permanece elevado, e o ciclo de pandemia pode se prolongar.
Por fim, a queda nas mortes por Covid-19 no Brasil é um sinal positivo, mas é importante que as políticas de saúde pública continuem focadas na melhoria da imunização, na distribuição equitativa das vacinas e no cuidado com os sequelados da doença. As decisões políticas relacionadas à vacinação devem levar em consideração as evidências científicas e os desafios globais, para evitar que o país caia em um ciclo de desigualdade e ineficácia no enfrentamento da pandemia.