A suspensão da vacinação contra a Covid-19 em Salvador durante o feriado de 12 de outubro é uma decisão que suscita questionamentos importantes, principalmente considerando o contexto atual da vacinação no Brasil. Embora a prefeitura tenha justificado a pausa, alegando que a aplicação das doses será retomada normalmente na quarta-feira, há uma razão para repensar essa escolha. A Bahia, como um todo, está abaixo da média nacional de vacinação, e em relação a São Paulo, que é o estado com a maior taxa de vacinação, a diferença é alarmante, com São Paulo alcançando 62% da população com o esquema vacinal completo, enquanto a Bahia está em 41%.
A suspensão da vacinação durante o feriado não parece ser uma medida eficaz, especialmente considerando o fato de que Salvador, durante o feriadão, recebe visitantes de diversas regiões da Bahia. Isso poderia ser uma excelente oportunidade para implementar estratégias de vacinação mais abrangentes, como a utilização de postos móveis. Essas unidades móveis poderiam atingir populações que, por diversas razões, têm dificuldade em se deslocar até os pontos fixos de vacinação. Um exemplo clássico disso são os vendedores ambulantes e outros trabalhadores informais, que, devido aos horários apertados e à dificuldade de acessar os postos de saúde, poderiam aproveitar o feriado para ser vacinados.
Outras cidades, como São Paulo, já adotaram medidas para garantir que a vacinação prosseguisse sem interrupções, utilizando esquemas especiais durante os feriados. Isso ajuda a evitar a queda nas taxas de vacinação e maximiza o alcance da campanha de imunização, o que é crucial para garantir a proteção da população contra a Covid-19.
Enquanto a vacinação deve ser uma prioridade, é importante também destacar a postura do presidente Jair Bolsonaro. Em uma atitude absurda, Bolsonaro não pôde assistir ao jogo entre Santos e Grêmio por não apresentar o comprovante de vacinação. Sua alegação de que tem anticorpos por ter contraído Covid-19 é cientificamente infundada, pois, como já demonstrado, a variante delta do vírus pode reinfectar pessoas que já tiveram outra variante. Essa justificativa revela a falta de entendimento sobre a pandemia e o processo imunológico, além de um total desprezo pela saúde coletiva.
O mais preocupante, no entanto, é a postura de Bolsonaro em relação à liberdade e a sua defesa da ampliação do porte de armas, enquanto tenta minimizar a importância da vacinação. Defender a liberdade de portar armas de fogo enquanto também se opõe a medidas de proteção coletiva, como a vacinação obrigatória para frequentar ambientes de aglomeração, demonstra uma incoerência profunda. Esse tipo de discurso apenas reforça uma ideologia de controle e negação da ciência, algo que pode ser comparado com os discursos autoritários e fascistas que buscam impedir a liberdade dos outros sob o pretexto de “defender a liberdade”.
Em tempos de emergência sanitária, como a atual pandemia de Covid-19, não há justificativa para permitir que pessoas não vacinadas frequentem espaços públicos de aglomeração. A vacina é uma medida de proteção não apenas individual, mas também coletiva. Aqueles que se vacinam demonstram, em tese, uma maior disposição para cuidar da saúde do coletivo, protegendo não apenas a si mesmos, mas também aos outros. Ignorar isso, como tem feito o presidente, é uma afronta à saúde pública e à responsabilidade cívica. A vacina é a nossa principal ferramenta para vencer a pandemia, e decisões que retardam esse processo são inaceitáveis.