Operadoras de saúde são alvo de denúncias graves que incluem uso de medicamentos ineficazes e omissão de informações médicas
Uma série de denúncias envolvendo planos de saúde brasileiros, como Hapvida e Prevent Senior, expõe práticas controversas e arriscadas adotadas durante a pandemia de COVID-19. O caso mais recente veio à tona com a revelação de que Gileno Soares Barreto, de 72 anos, faleceu após 21 dias internado em um hospital do Hapvida. Sua declaração de óbito, no entanto, omitiu a COVID-19 como causa, repetindo um padrão já identificado na Prevent Senior.
O histórico do Hapvida mostra reincidência em práticas duvidosas. Médicos relataram que diretores da empresa exigiam a prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina, mesmo sem diagnóstico confirmado de COVID-19. Essas drogas, além de ineficazes, trazem riscos à saúde. Essa prática foi confirmada pelo Ministério Público Estadual do Ceará (MP-CE), que, em abril de 2021, multou a operadora em R$ 468 mil por impor o chamado “tratamento precoce”.
A adoção de medicamentos sem comprovação científica, como cloroquina e ivermectina, marcou a pandemia no Brasil. Esses remédios, promovidos por discursos negacionistas, tornaram-se parte de protocolos em algumas redes privadas de saúde. As denúncias indicam que tais práticas podem ter sido motivadas por alinhamento ideológico ou por razões econômicas, já que tratamentos hospitalares seriam mais custosos.
Outro ponto alarmante é a possível subnotificação de mortes por COVID-19. Assim como no caso de Barreto, a Prevent Senior também foi acusada de omitir a doença como causa em declarações de óbito. Essas ações dificultam o registro real dos impactos da pandemia e alimentam a desinformação.
As práticas das operadoras de saúde têm gerado grande preocupação. O uso do “kit covid” em diversas redes, tanto públicas quanto privadas, mostra uma falta de comprometimento com a ciência e com a segurança dos pacientes. Durante o pico da pandemia, o Ministério da Saúde distribuiu medicamentos do “kit covid” em maior volume do que os necessários para intubação, uma inversão de prioridades alarmante.
O caso do Hapvida reforça a necessidade de regulamentação mais rigorosa e de investigações aprofundadas sobre a conduta de outras operadoras de saúde. As denúncias indicam que os casos conhecidos podem ser apenas a ponta do iceberg. Passar a limpo essas práticas é essencial para garantir justiça às vítimas e impedir que erros semelhantes se repitam.
A pandemia deixou um legado de sofrimento e incertezas, mas também revelou fragilidades e práticas antiéticas no sistema de saúde brasileiro. A sociedade precisa de respostas e mudanças concretas para assegurar que a vida dos cidadãos seja tratada com dignidade e respeito.