A desinformação e a lentidão da imunização como aliados de uma pauta que ameaça a saúde pública no Brasil
O negacionismo bolsonarista, que já passou por fases de ataque às medidas sanitárias e promoção de medicamentos ineficazes, agora volta suas armas contra a vacinação. Embora as pesquisas mostrem um amplo apoio à vacinação, com índices superiores a 90%, os discursos e ações recentes de figuras ligadas ao governo demonstram uma tentativa de enfraquecer a confiança nos imunizantes.
Ataques veiculados pela rádio Jovem Pan, incluindo a disseminação de notícias falsas sobre mortes causadas por vacinas, e declarações de figuras como Eduardo Bolsonaro, que insinuam ineficácia dos imunizantes, ilustram essa estratégia. O próprio presidente Jair Bolsonaro voltou a classificar as vacinas como “experimentais”, ignorando evidências científicas e buscando alimentar dúvidas na população.
Essa narrativa é reforçada pela lentidão na aplicação da segunda dose, que mantém milhões de brasileiros sem o esquema vacinal completo. Segundo a Sociedade Brasileira de Infectologia, 95% das pessoas internadas por COVID-19 não estão totalmente imunizadas, evidenciando o impacto direto da falta de adesão às doses subsequentes. Essa demora não é apenas reflexo de logística, mas também da semeadura da desinformação, que mina a confiança e reduz a adesão.
A revelação de escândalos como o da Prevent Senior, onde práticas desumanas e experimentos sem ética foram realizados, poderia ter enfraquecido o negacionismo. Contudo, o movimento se reinventa, agora atacando a vacinação e tentando importar o movimento antivacina para o Brasil. Essa estratégia ameaça diretamente a saúde pública, colocando em risco a imunização coletiva necessária para superar a pandemia.
O impacto dessa campanha de desinformação já pode ser medido. Com 16.275 mortes registradas em setembro, o Brasil alcançou o terceiro menor número de óbitos desde maio de 2020. No entanto, a média móvel de mortes, que está entre 500 e 660 há semanas, reflete o efeito da baixa adesão à segunda dose. Esse cenário poderia ser ainda mais positivo, caso houvesse maior compromisso em garantir a imunização plena da população.
O negacionismo bolsonarista não atua sozinho. Ele é sustentado por aliados no Congresso, como Arthur Lira e o Centrão, além de setores da direita que preferem manter Bolsonaro no cargo enquanto suas pautas econômicas são atendidas. Esse pacto político se dá às custas de milhares de vidas perdidas, alimentando um genocídio silencioso que segue somando vítimas.
No próximo dia 2 de outubro, protestos pelo “Fora Bolsonaro” são convocados em diversas cidades. Eles representam não apenas um grito contra a gestão desastrosa da pandemia, mas também um apelo por políticas que priorizem a ciência e a saúde pública. Enquanto a vacinação avança a passos lentos e o negacionismo se reinventa, a mobilização popular é fundamental para garantir que vidas sejam protegidas e que a tragédia não se repita.