vai sobrar vacina?

Vamos aos dados. O PNI já distribuiu, em números aproximados, 290 milhões de doses, das quais já foram aplicadas 232 milhões, ou seja, se encontram hoje nos estados 58 milhões de doses a serem inoculadas. Para vacinar 90% da população, o que seria um recorde mundial, pois, como a vacina não é obrigatória, dificilmente se chegará a esse percentual, teríamos que ter disponíveis 384 milhões de doses.

Estou desconsiderando de propósito o imunizante da Janssen, de dose única, que até agora foram 4,5 milhões de doses, portanto, novas remessas de Janssen diminuiriam o total necessário, pois ela valeria pela primeira e segunda doses.

Mas sigamos. Se necessitávamos de 384 milhões e ainda temos 58 milhões, computando as que já estão distribuídas, e já aplicamos 232 milhões, faltariam 94 milhões de doses para cumprir a meta de 90% de cobertura vacinal, que seria, como já disse, uma meta mais do que otimista.

Acontece que o Ministério da Saúde divulgou que entre outubro e dezembro há a expectativa (contratos firmados e acordos) de receber 226,7 milhões de doses, sendo 100 milhões da Pfizer, 58 milhões da AstraZeneca, 36,3 milhões da Janssen, 5,1 milhões da Covax Facility, 27,4 milhões da Covax (a confirmar). Mas tem mais 2,5 milhões da CoronaVac anunciada por Doria vendidas a outros estados, o que daria ototal mais de 228 milhões de doses disponíveis.

A questão é, se precisamos de 94 milhões para a meta e temos, ao menos previsto, 228 milhões, em tese sobrariam 134 milhões de doses. Tem as doses para idosos e imunossuprimidos, agora também para profissionais de saúde, que é a chamada terceira dose, ou seja, a que serve para completar o esquema vacinal. Esse grupo chegaria a perto de 30 milhões, ou seja, 100 milhões de doses devem “sobrar”. E o que fazer com isso?

Evidente que podemos pensar em já programar o reforço (que é diferente da terceira dose), mas isso exigiria a organização de uma segunda campanha nacional de vacinação. Restaria a dúvida neste caso de como estocar 100 milhões de doses, algumas em refrigeração abaixo de zero. Tem a questão também do prazo de validade dos imunizantes.

Outra questão é a de que o gargalo em estados como São Paulo, que já vacinou 80% de sua população, tem sido a escassez de vacinas. Mas nos estados que menos vacinaram, o gargalo está sendo logístico.

Tudo indica que, mesmo com oferta extra de vacinas, nem todos os estados conseguirão imunizar 80% a 90% da população ainda este ano e acredito que dificilmente chegarão nessa meta em tempo algum.

Temo que, a exemplo de testes para a detecção de Covid-19 e outros medicamentos, ainda teremos a notícia de que o Ministério da Saúde deixou estragar milhões de doses da vacina. Quem (sobre) viver, saberá.

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