Reconhecimento internacional reforça liderança científica brasileira e abre novas perspectivas para a saúde pública
Na última semana, a ciência brasileira alcançou mais um marco significativo: o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foi selecionado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como centro de referência para o desenvolvimento e produção de vacinas baseadas em RNA mensageiro (mRNA) na América Latina.
A escolha, anunciada em 21 de setembro, é fruto de uma chamada mundial lançada pela OMS em abril de 2021. Essa iniciativa busca ampliar a capacidade de produção e o acesso às vacinas contra a Covid-19 nas Américas. Entre mais de 30 instituições e empresas que participaram do processo, apenas a Fiocruz e um laboratório privado argentino foram selecionados.
A decisão da OMS premia o esforço contínuo da Fiocruz em inovar e desenvolver soluções para a saúde pública. A instituição já trabalha na criação de uma vacina totalmente nacional baseada na tecnologia de mRNA, utilizada, por exemplo, na fabricação da vacina da Pfizer. A construção de uma nova unidade fabril dedicada à produção de imunizantes também foi determinante para a escolha.
Segundo especialistas, a tecnologia de mRNA não apenas representa um avanço no combate à Covid-19, mas também abre portas para o desenvolvimento de outras vacinas e tratamentos, incluindo opções promissoras para diversos tipos de câncer. Com a seleção, o Brasil se posiciona na vanguarda da inovação em saúde na América Latina, promovendo maior independência tecnológica.
A Fiocruz também planeja produzir o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) no Brasil, um diferencial estratégico, já que atualmente cerca de 90% dos medicamentos ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são importados. Essa autonomia fortalece a capacidade do país de responder a crises sanitárias futuras com maior rapidez e eficácia.
Contudo, é importante contextualizar esse avanço diante do cenário de redução de investimentos na ciência brasileira. Desde 2015, o orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia caiu de R$ 6,5 bilhões para R$ 2,7 bilhões, comprometendo a sustentabilidade de pesquisas essenciais. Apesar desse cenário adverso, instituições como a Fiocruz seguem resistindo ao desmonte e ao obscurantismo, evidenciando o impacto de um sistema científico resiliente.
Essa conquista reforça a importância do financiamento contínuo e da valorização da ciência para a soberania nacional e o bem-estar coletivo. A seleção da Fiocruz pela OMS não é apenas uma vitória brasileira, mas também um passo fundamental para a saúde pública em toda a América Latina.