Pandemia descontrolada em tempos sombrios

Interessante pesquisa da Datafolha divulgada ontem (24) sobre a percepção quanto ao controle da pandemia em que 09% acham que está totalmente sob controle e 71% que está parcialmente controlada. Na outra ponta, 20% avaliam que está fora de controle e 1% não sabe dizer.

Prefiro concordar com a turma dos 20%, pois penso que está fora do controle. Primeiramente porque não podemos confundir o fato de estar com tendência de queda da média móvel de mortes (estava até quinta-feira), pois isso se deve à vacinação e, provavelmente, ao próprio ciclo da doença.

Controle pressupõe que se atua de forma coordenada e abrangente sobre todos ou maioria dos fatores que incidem sobre a pandemia, e estamos longe disso, nem mesmo sabemos com alguma precisão um dado elementar que é a prevalência da variante delta em todos os estados e principais municípios do país.

Não testamos em massa, não temos um trabalho de vigilância genômica em todo o país, não fazemos rastreamento de contato e isolamento adequados, nem mesmo temos uma vacinação (PNI) razoavelmente uniforme em todo território nacional, muito ao contrário, a diferença entre os estados que mais e menos vacinaram são enormes. São Paulo, por exemplo, vacinou o dobro que Roraima na segunda dose.

O outro dado auspicioso da pesquisa é o apoio ao uso de máscara, em que 91% acham que deve ser obrigatória enquanto a pandemia não estiver totalmente controlada. Isso num país com nossas carências, em que os governos não promoveram de forma sistemática nem campanhas e nem distribuição, é realmente surpreendente.

Aliás, a pandemia estar sob controle passaria por este quesito, distribuição sistemática e regular de máscaras de qualidade, que faria enorme diferença no controle da propagação do vírus. Mas ressalto o fato do movimento antimáscara não ter ganhado força entre o povo brasileiro.

Contribui para o descontrole a inação e as decisões erradas, como a de suspender a vacinação de adolescentes (revertida pelo STF) e a novidade anunciada na sexta-feira por Doria, governador de São Paulo, de liberar torcida nos estádios para jogos de futebol, 100% já em 01 de novembro.

Mas começa antes, em 04 de outubro 30% e 15 de outubro 50% da capacidade máxima. Na prática é um liberou geral, seja pela urgência da medida, cedendo à pressão dos clubes, seja pelo fato de que somente 3 clubes no Brasil têm média de ocupação dos estádios superior a 50% em seus jogos.

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