Ministro Ricardo Lewandowski afirma que estados e municípios têm autonomia sobre a vacinação de adolescentes; enquanto isso, o negacionismo do governo federal continua a gerar consequências dramáticas, como o caso de Anthony Wong
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, em uma decisão proferida ontem (21), afirmou que estados e municípios têm a competência para decidir sobre a vacinação de adolescentes com mais de 12 anos contra a Covid-19.
A decisão reforça o entendimento do STF de que os entes federativos possuem responsabilidades concorrentes no combate à pandemia. Embora essa medida tenha sido atacada por diversas vezes pelo governo Bolsonaro, que afirma erroneamente que o STF o impediu de combater o vírus, a verdade é que o tribunal tem cumprido um papel crucial, orientando as ações do governo e corrigindo os excessos do negacionismo federal.
A decisão do STF ocorre em um momento crítico, quando o Brasil voltou a registrar alta na taxa de transmissão da Covid-19, conforme apontado pelo Imperial College de Londres. A taxa de transmissão semanal atingiu 1.03, o maior valor desde 22 de junho de 2021, revelando uma tendência de aumento nos casos, internações e mortes. Este dado alarmante reforça a necessidade de acelerar a vacinação e tomar medidas rigorosas de contenção, em vez de criar obstáculos, como tem feito o Ministério da Saúde em algumas de suas recomendações. O ministro Queiroga, por exemplo, recentemente testou positivo para a Covid-19 após um evento na ONU, demonstrando, mais uma vez, que as medidas de proteção, como o uso de máscara e a vacinação, são essenciais, mesmo para os imunizados.
Em meio a essa conjuntura, o Brasil foi abalado pela revelação de um escândalo envolvendo a morte do médico Anthony Wong, um defensor do negacionismo e tratamentos sem comprovação científica. Em uma reportagem exclusiva da revista Piauí, a jornalista Ana Clara Costa detalhou como a morte de Wong foi escondida por 123 profissionais do hospital Sancta Maggiore, do grupo Prevent Senior. O médico, que foi internado com sintomas de Covid-19 em novembro de 2021, recebeu um “kit Covid” com medicamentos sem comprovação científica e passou por tratamentos experimentais, enquanto seu quadro se agravava.
O caso de Wong revela não apenas a falência do sistema de saúde em oferecer tratamentos baseados em evidências, mas também a trama de ocultação que envolveu uma rede de profissionais da saúde dispostos a silenciar sobre a verdadeira causa de sua morte. De acordo com a reportagem, o atestado de óbito omitiu a Covid-19 como causa, configurando crime de falsidade de atestado. O episódio expõe como o negacionismo científico não se limita a declarações públicas de figuras políticas, mas também permeia instituições de saúde, comprometendo a confiança do público e colocando vidas em risco.
A tragédia que envolveu o médico Anthony Wong é apenas mais um exemplo do impacto devastador do negacionismo no combate à pandemia no Brasil. O envolvimento da Prevent Senior, já investigada pela CPI da Pandemia, demonstra a extensão do problema, com 123 profissionais colaborando em uma operação de ocultação de informações que beira o absurdo. O pacto de silêncio instaurado nesse caso lembra práticas de organizações criminosas, o que levanta sérias questões sobre a ética e a responsabilidade dentro do sistema de saúde brasileiro.
A decisão do STF, por sua vez, é um passo importante para garantir que a vacinação de adolescentes continue avançando, apesar da resistência de algumas esferas do governo federal. No entanto, enquanto o negacionismo ainda tiver espaço em algumas instituições de saúde e na política, o Brasil continuará a enfrentar desafios imensos no enfrentamento da pandemia e na recuperação de sua população.