A genocídio tem o dedo do Queiroga

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, decidiu ontem (21) favoravelmente à compreensão de que estados e municípios podem decidir sobre a vacinação de adolescentes maiores de 12 anos contra a covid-19, coerente com decisões anteriores que definiu que os entes federativos têm responsabilidades concorrentes no combate à pandemia, decisão essa sempre atacada por Bolsonaro que divulga a versão descabida de que o STF o impediu de combater o vírus, Nada mais falso.

Diversos partidos recorreram ao STF buscando a retomada da imunização, insurgindo-se contra a decisão do Ministério da Saúde que passou a recomendar a suspensão da vacinação de adolescentes depois de, tudo indica, ser pressionado por Bolsonaro. Com mais essa decisão, o STF segue atuando como uma espécie de poder orientador ou corretor dos principais descalabros do negacionismo do governo federal.

A decisão é excelente e vem em boa hora, frente à notícia de que o Brasil voltou a registrar alta na taxa de transmissão da Covid-19, segundo o Imperial College, de Londres, que monitora esse dado. Essa é uma mudança epidemiológica das mais significativas e foi constatada depois de semanas de redução.

O indicador semanal divulgado na terça-feira (21), aponta a taxa de 1.03 (dada 100 diagnosticados infectam 103 pessoas). É o maior desde o início de 22 de junho de 2021. Esse índice revela a tendência de aumento de casos antes disso aparecer nas estatísticas de casos novos, pois dá conta da força da propagação do vírus. Maior transmissão, mais casos, mais internações e por fim, mais mortes.

Definitivamente, senhor Queiroga, não é momento de impor entraves à vacinação. Ministro que depois de participar do espetáculo digno de uma ópera bufa em Nova Iorque (ONU), com pizza na calçada e dedo do meio para manifestantes, testou positivo para Covid-19 e terá que permanecer em quarentena (triste) em hotel de luxo. Queiroga, vacinado, prova que além da vacina, medidas de cuidado como máscara e desinfecção constante, seguem necessárias.

Mas o mais estarrecedor foi noticiado ontem na reportagem A MORTE EM SEGREDO, da revista Piauí, assinada pela jornalista Ana clara Costa, que conta em detalhes como o diagnóstico da morte por Covid-19 do médico Anthony Wong foi escondido por 123 profissionais do hospital Sancta Maggiore, do grupo Prevent Senior.

Wong foi uma espécie de celebridade do negacionismo, defensor de tratamentos sem comprovação científica e de teses como a imunidade de rebanho, isolamento vertical e a defesa delirante de uma estranha imunidade “natural” da população brasileira frente aos coronavírus. Internado com sintomas de Covid-19 em 17 de novembro, morreu sessenta dias depois, em 15 de janeiro deste ano.

O Doutor Wong foi submetido a um mix de tratamentos sem comprovação científica enquanto seu quadro se agravava. Parece ter sido montada uma operação de guerra cujo objetivo não era salvá-lo, mas salvar a reputação dos negacionistas e proteger o negacionismo e seus métodos.

Vejam abaixo o texto transcrito da reportagem:

“No dia da internação, segundo consta do prontuário médico, Wong autorizou ser medicado com o “kit Covid” da Prevent Senior, composto de hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina. O tratamento precoce durou quatro dias, e Wong passou a usar outros remédios, todos sem comprovação científica. Recebeu heparina inalatória, cujo efeito em infecções virais é desconhecido, e metotrexato venoso, tradicionalmente prescrito no tratamento de doenças autoimunes e inflamatórias crônicas, como artrite, mas sem efeito comprovado contra a Covid. Juntamente com essa leva de tratamentos experimentais, Wong recebeu mais de vinte sessões de ozonioterapia retal, tratamento que até mesmo o Ministério da Saúde no governo Bolsonaro desaconselha (…)”.

Incrível que depois de tudo isso a informação de que o paciente morreu em decorrência de Covid-19 e suas complicações foi simplesmente omitida do atestado de óbito. Isso é crime de falsidade de atestado de óbito, previsto no código penal.

Não é um erro ou simples omissão, mas se insere em uma trama que, como já disse, se relaciona com a produção ativa do negacionismo científico. E mais uma vez a Prevent Senior, já investigada pela CPI da pandemia, envolvida em escândalo de grande proporção. Incrível é que, segundo a reportagem, 123 profissionais envolvidos de alguma forma colaboraram na produção do “segredo”. Me pergunto que tipo de organização produz tal pacto de silêncio que lembra a máfia?

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