Problemas nos dados de Covid-19 distorcem a percepção da pandemia no Brasil

Falhas no sistema de dados e baixa testagem dificultam a precisão no acompanhamento da evolução da pandemia

A média móvel de mortes por Covid-19 no Brasil voltou a subir, impulsionada pelos dados do Rio de Janeiro, que haviam sido omitidos na divulgação anterior devido a falhas técnicas no sistema de dados. Além disso, o número de casos registrados atingiu um pico recorde, mas esse aumento não reflete a realidade, uma vez que foram computados dados atrasados dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Esses dados, que fazem parte de ajustes no sistema, referem-se a casos que ocorreram ao longo da pandemia e não a novos registros de infecções recentes.

Esse tipo de erro no sistema de registros afeta profundamente a forma como a população e as autoridades percebem a evolução da pandemia. Com o ajuste dos dados, a média móvel de casos quase dobrou, criando uma imagem distorcida da situação atual. Contudo, o número de óbitos não foi alterado, uma vez que os sistemas utilizados para o registro de óbitos (E-SUS) e para o acompanhamento de novos casos (SIVEP) são distintos.

Outro problema estrutural na coleta de dados é a subnotificação de casos, um fenômeno que acontece devido à baixa taxa de testagem no Brasil. O país figura entre os piores do mundo no número de testes realizados, ocupando a 60ª posição mundial. Essa limitação dificulta a identificação de pessoas assintomáticas ou com sintomas leves que não procuraram atendimento médico, deixando de ser contabilizadas como casos confirmados. Assim, o número real de pessoas infectadas é muito maior do que o número oficial de casos.

Estudos de prevalência, como os realizados com testes de anticorpos para Covid-19 em diversas regiões censitárias do Brasil, indicam que o número real de infectados pode ser de três a quatro vezes maior do que o oficialmente registrado. Esses dados ressaltam a importância de uma maior cobertura de testes e de um acompanhamento mais eficaz das infecções, para garantir uma visão mais precisa da pandemia e tomar as medidas adequadas para enfrentá-la.

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