Os crimes da Prevent Senior

Sem os dados do Rio de Janeiro, a média móvel de mortes tem queda discreta. A média móvel de novos casos aumentou um pouco.

Mas vamos aos fatos. Na última quinta-feira (16), foi anunciada pelo ministro Queiroga a orientação de não mais vacinar todos os adolescentes de 12 a 17 anos contra a Covid-19, ficando somente a indicação de vacinação para os que apresentarem morbidades consideradas de risco.

A decisão vem um dia depois que o ministro ter afirmado que “há excesso de vacinas no Brasil”, portanto o motivo não seria a escassez de imunizantes. Poderia ser uma questão científica, preocupação, mesmo que exagerada, com a segurança sanitária, mas também não.

Ao menos segundo os técnicos da câmara técnica do Plano Nacional de Imunizações, que discordaram da medida e relataram que nem mesmo foram ouvidos sobre o tema, e até mesmo ameaçaram se demitir do comitê. Em reunião na sexta-feira, exigiram que o Ministério da Saúde mude de posição e que confirme que não houve consulta.

Nas redes corre a notícia de que a decisão de Queiroga tenha sido em obediência à vontade de Bolsonaro, no velho esquema ‘ele manda e eu só obedeço’ do “saudoso” Pazuello. Corre também a versão de que teria sido a jogadora Ana Paula do vôlei a inspiradora da decisão por atuar nas redes contra a vacinação de adolescentes.

A pregação antivacina é uma constante na rede bolsonarista, mas estava meio enfraquecida. A morte de uma adolescente de 16 anos em São Bernardo do Campo/SP, disparou reações contra a vacina. Acontece que o fato não foi causado pela vacina da Pfizer, aponta estudo feito pela Secretaria de Estado da Saúde, divulgado hoje. O diagnóstico foi uma doença autoimune, grave e rara, conhecida como Púrpura Trombótica Trombocitopênica (PTT), sem causa conhecida que a desencadeie.

O fato é que o negacionismo e o movimento antivacina, acostumado a se animar com Fake News, fez da morte da adolescente combustível para sua pregação. O triste mesmo (é assombroso) é termos um ministro da saúde que se presta a isso.

Outro tema da semana são as investigações sobre a Prevent Senior, plano de saúde especializado em atender o público idoso, e sua (falsa) pesquisa com cloroquina. É uma inacreditável coleção de crimes.

Isso mesmo: aconteceu adulteração de prontuário, sujeitos de pesquisa involuntários (cobaias), prescrição de medicamento sem eficácia confirmada, adulteração ou omissão de informações em atestado de óbito, interferência na autonomia profissional, pessoal não médico se passando por médico, negligência em adotar procedimentos protocolares de tratamento, falsificação de dados de pesquisa (entre outros) e, em última análise, homicídio doloso por, de forma consciente e conhecendo os riscos, submeter pessoas à tratamento de risco sem ao menos o consentimento livre e esclarecido.

Mas observem o que eu já havia escrito em 28 de abril de 2020 (isso mesmo, há um ano e 5 meses):
“Uma situação para lá de obscura é o estudo com hidroxicloroquina conduzido pela (*) Prevent Senior. A CONEP – Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Conselho Nacional de Saúde, aprovou uma pesquisa para ser feita pela Prevent.

Acontece que apenas três dias após a aprovação, a Prevent publicou um relatório com resultados, o que é totalmente impossível quando se considera o escopo da pesquisa. Tal fato acabou provocando o cancelamento da pesquisa pela CONEP.

Parece que o tal estudo, que apresenta resultados amplamente favoráveis ao uso da substância, não é de fato uma pesquisa conduzida por metodologia aceita, que pressupõe, por exemplo, o recrutamento de voluntários e entre esses a formação de grupos aleatórias dos que usam a substância e dos que usam placebo, sem que cada grupo saiba o que é administrado.

O que foi executado pela Prevent é no máximo um estudo clínico, que, se bem conduzido, pode dar pistas e levantar hipóteses que depois são refutadas ou confirmadas por pesquisa metodologicamente correta. O que a Prevent fez, mesmo para estudo clínico, é bem falho, pois se baseia nos atendimentos e compara o grupo que aceitou e o que não aceitou o uso da hidroxicloroquina e, pior, nem há mesmo comprovação de que quem usou a substância estava de fato com covid-19.

Curiosamente os resultados deste estudo que foi apresentado na sexta (18/04) acabou sendo usado na live de Bolsonaro do dia 19/04 como argumento para a sua defesa do fim do isolamento.

Pesquisas com seres humanos são cercadas de muitos cuidados do ponto de vista da ética e da segurança. Parece que razões mercadológicas podem ter imperado no caso. O fato chamou a atenção do ex-ministro da Saúde e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) que encaminhou ofício à Conep pedindo informações. Que sigam as investigações”.

Tudo isso já era sabido em abril de 2020, mas essa preguiça fenomenal da mídia corporativa de investigar é incrível. A coisa somente veio a público agora pelas denúncias feitas no bojo da CPI da Pandemia.

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