Vacinação de adolescentes e Prevent Senior: as crises que expõem o descaso com a saúde pública

Decisões controversas e escândalos expõem falhas éticas e políticas que comprometem a saúde da população.

Na última quinta-feira (16), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que a vacinação contra a Covid-19 para adolescentes de 12 a 17 anos seria restrita àqueles com morbidades de risco. A decisão foi recebida com perplexidade por especialistas e técnicos do Plano Nacional de Imunizações (PNI), que afirmaram não ter sido consultados e ameaçaram renunciar. Em paralelo, novas denúncias sobre irregularidades na Prevent Senior revelaram práticas alarmantes que incluem a falsificação de dados em pesquisas e a exposição de pacientes a riscos sem consentimento.

A decisão de Queiroga e suas motivações
A orientação de Queiroga surgiu um dia após o próprio ministro afirmar que há “excesso de vacinas” no Brasil, descartando a escassez como justificativa. Alegações de motivos científicos também não se sustentam, já que a segurança das vacinas para adolescentes foi reiterada por estudos internacionais e autoridades sanitárias.

Técnicos do PNI declararam que a medida contradiz evidências científicas e atende, possivelmente, a pressões externas. Há especulações de que a decisão esteja alinhada com o negacionismo promovido pelo presidente Jair Bolsonaro ou até influenciada por figuras públicas antivacinas, como a ex-jogadora de vôlei Ana Paula.

O movimento antivacina, que vinha perdendo força, encontrou combustível na morte de uma adolescente de 16 anos em São Bernardo do Campo, erroneamente atribuída à vacina da Pfizer. A investigação conduzida pela Secretaria de Saúde de São Paulo, no entanto, concluiu que a causa foi uma doença autoimune rara, a Púrpura Trombótica Trombocitopênica (PTT), sem relação com a vacina. Mesmo assim, o episódio foi amplamente explorado por grupos negacionistas.

Prevent Senior: uma coleção de crimes
Outro foco de atenção foi o aprofundamento das investigações sobre a Prevent Senior, operadora de saúde especializada em idosos, que se tornou símbolo de práticas antiéticas. As denúncias incluem:

  • Adulteração de prontuários e atestados de óbito;
  • Uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina, sem consentimento dos pacientes;
  • Cobaias humanas submetidas a estudos clínicos falhos;
  • Manipulação de dados para favorecer narrativas negacionistas.

Em abril de 2020, sinais de irregularidades já eram evidentes. A Prevent Senior conduziu um “estudo” com hidroxicloroquina que, três dias após a aprovação da Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa), apresentou resultados improváveis. A pesquisa foi posteriormente cancelada pela Conep, mas seus dados falsificados foram usados por Bolsonaro para justificar o fim do isolamento social.

Contexto e negligência midiática
Desde o início, o caso Prevent Senior levantou suspeitas de práticas antiéticas, priorizando interesses comerciais e ideológicos em detrimento da saúde pública. Apesar disso, a gravidade das ações só ganhou notoriedade após a CPI da Pandemia, expondo uma falha histórica na apuração jornalística sobre o tema.

Impactos e perspectivas
Os dois episódios — a restrição da vacinação e o escândalo da Prevent Senior — ilustram o descaso com vidas humanas em prol de interesses políticos e econômicos. Ambos reforçam a necessidade de investigações rigorosas e da defesa intransigente da ciência e da ética em saúde.

À medida que o Brasil lida com os desdobramentos da pandemia, esses eventos servem como lembrete de que decisões baseadas em negacionismo e práticas antiéticas podem ter consequências devastadoras para a sociedade.

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