Reportagem detalha irregularidades que envolvem mortes de pacientes e fraude em estudo usado como base para narrativas negacionistas.
Uma reportagem assinada por Guilherme Balza, da GloboNews e G1 SP, trouxe à tona, na quinta-feira (16), informações estarrecedoras sobre a Prevent Senior, operadora de saúde investigada pela CPI da Pandemia. As denúncias apontam que a empresa ocultou mortes de pacientes em um estudo que buscava comprovar a eficácia da cloroquina no tratamento precoce da Covid-19. Além disso, tratamentos foram realizados sem autorização dos pacientes, e das nove mortes ocorridas entre os participantes, apenas duas foram oficialmente registradas no estudo.
As revelações indicam um quadro gravíssimo: cobaias humanas submetidas a procedimentos irregulares e fraudulentos, que culminaram em óbitos. Na prática, o que se apresenta é uma combinação de negligência e ações que podem ser classificadas como criminosas, indo além da má condução de uma pesquisa científica.
O estudo foi iniciado em março de 2020, ganhando destaque como o “xodó” do bolsonarismo e do ex-presidente Jair Bolsonaro. Apresentado como prova da eficácia do tratamento precoce com hidroxicloroquina associada à azitromicina, o estudo serviu de sustentação para uma narrativa negacionista que ignorava as evidências científicas. No entanto, os fatos apontam para uma fraude de grandes proporções, que incluía forçar profissionais de saúde a trabalharem infectados e administrar medicamentos sem o consentimento dos pacientes.
Denúncias e provas contundentes
A reportagem, sustentada por documentos, planilhas, vídeos, e-mails e depoimentos de profissionais, pacientes e familiares, detalha o cenário de irregularidades. As práticas criminosas da Prevent Senior vão desde a aplicação de medicamentos sem informar os pacientes até a omissão deliberada de mortes em seus registros, configurando o que muitos já classificam como um crime hediondo.
No meu próprio diário, em 27 de abril deste ano, escrevi sobre a Prevent Senior:
Segue o conteúdo reescrito com suas palavras:
“Trata-se de um estudo observacional, ou seja, sem conclusões definitivas e, além disso, conduzido de forma questionável. A Prevent Senior aparenta ter realizado a pesquisa como uma forma de validação para algo que já vinha utilizando amplamente: o medicamento. A organização chegou a divulgar dados que alegavam uma grande eficácia da cloroquina, porém esses dados nunca foram respaldados por estudos sérios ou análises estatísticas confiáveis. Considerando que se trata de um tratamento não autorizado, com diversos estudos apontando seus riscos, e ainda há relatos de mortes, fica claro que existem mais questões a serem investigadas.”
Conflitos de interesse e consequências fatais
As ações da Prevent Senior parecem revelar uma convergência de interesses, tanto ideológicos quanto comerciais. De um lado, a operadora sustentava uma narrativa alinhada ao negacionismo promovido pelo governo Bolsonaro; de outro, buscava atrair clientes pela falsa promessa de uma “cura milagrosa”. Agindo como vendedores de produtos milagrosos, os responsáveis ignoraram os riscos de uma doença mortal, especialmente para a população idosa, público-alvo do plano de saúde.
Investigação e responsabilização
Felizmente, essas práticas não caíram no esquecimento. As investigações continuam, e o aprofundamento das apurações pode trazer à tona mais detalhes sobre as motivações e os responsáveis por essas ações. Trata-se de um momento crucial para reafirmar o compromisso com a ética, a ciência e a saúde pública, garantindo que tragédias como essa não se repitam.