O cobertor curto da cobertura vacinal

Consolida-se, até o momento, a tendência de queda da média móvel de mortes. Mas duas coisas seguem preocupantes. Uma delas é a corriqueira quebra do ritmo de vacinação, que atinge desigualmente os estados.

É frequente a suspensão da campanha, às vezes da primeira ou da segunda dose, às vezes das duas (quem tiver dúvida, pesquise no Google ”vacinação suspensa”). A regra é que isso acaba ocorrendo por problemas de logística.

A última notícia vem da Bahia, que não poderá distribuir a carga de quase 90 mil doses da Pfizer pelo fato de o lote não possuir o diluente necessário para a aplicação, informe dado pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesab). O Ministério da Saúde informou que o diluente será entregue nos próximos dias, sem precisar a data.

Outra notícia vem de São Paulo, em que a prefeitura da capital e governo acusam a falta da vacina AstraZeneca, dizendo que o problema ocorre após Ministério da Saúde descumprir cronograma de entrega de lote para segunda dose, o que provocou desabastecimento.

Vejam, a tendência é de que esse atraso não se recupere, ao menos totalmente, por limitações na capacidade de vacinar e novas ocorrências que terminam por atrapalhar o processo e variáveis imprevisíveis, como bloqueio de estradas patrocinadas pela horda bolsonarista.

Isso acaba por contribuir para o enorme descompasso entre os estados no que se refere ao sucesso da vacinação. As discrepâncias no total de pessoas vacinadas são gigantes, indo de 48% a 58% da população vacinada com no mínimo uma dose e da incrível variação de 17% a 49% na segunda ou dose única (totalmente imunizados).

Esse estado de coisas, tenho insistido, além de ser responsabilidade do Ministério da Saúde, que tem o dever de coordenar uma política nacional de vacinação, é um marcador importante da falha na campanha, pois o objetivo é a cobertura o mais uniforme possível em todo território.

É como se o “cobertor” fosse curto, servindo bem uns, mas deixando outros de fora. Na prática, observamos as desigualdades entre estados e regiões e mais uma vez temos a pandemia revelando e, eventualmente, retroalimentando as desigualdades no Brasil.

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