Embora a queda na média móvel de mortes seja promissora, o cenário continua instável, com a chegada de novas variantes e desafios na vacinação
O Brasil registrou, em 7 de setembro, a menor média móvel de óbitos desde 1º de dezembro de 2020. Desde essa data, a média móvel de mortes só aumentou, ultrapassando a marca de 1 mil mortes diárias em 21 de janeiro, com 191 dias consecutivos acima desse número. Nos últimos 39 dias, entretanto, a média móvel de óbitos tem permanecido abaixo da marca de 1 mil, gerando uma expectativa de possível queda no número de mortes.
No entanto, o número de óbitos registrado ontem, com uma queda de 603 para 526 em um único dia, foge à curva e reflete, em parte, a subnotificação que ocorre em feriados, especialmente após uma segunda-feira, que é tradicionalmente um dia com registros mais baixos de mortes. A variação de dados devido ao feriado sugere que, apesar da queda momentânea, ainda é cedo para afirmar que a tendência de queda está consolidada. A tendência real de redução de mortes deve ser avaliada nos próximos dias.
Os indicadores mais otimistas estão ligados, principalmente, ao avanço da vacinação. A aplicação da segunda dose tem mostrado um grande impacto na proteção da população contra formas graves da doença. A terceira dose, embora ainda em menor escala, também tem demonstrado eficácia, especialmente em indivíduos com comorbidades e idosos acima de 80 anos, o principal grupo de risco para complicações e óbitos pela COVID-19. A cobertura vacinal, portanto, permanece como um fator-chave para a redução das mortes.
Outro fator relevante é o comportamento da variante Delta, que, até o momento, tem se mostrado menos agressiva no Brasil em comparação com outros países como Reino Unido, Espanha, Itália e EUA. Nestes países, a variante causou um aumento expressivo no número de casos, em contraste com o cenário brasileiro, onde o aumento tem sido mais gradual, mesmo com a taxa de vacinação sendo inferior à desses países. O impacto da vacinação no controle da variante Delta no Brasil parece ser positivo, mas ainda precisa ser monitorado.
A nova variante Mu, identificada inicialmente na Colômbia, representa uma nova preocupação. Embora haja indícios de que seja menos agressiva e tenha menor capacidade de transmissão do que a Delta, a chegada dessa variante pode complicar a situação, especialmente em um momento em que o país já enfrenta desafios em relação à vacinação e ao controle das variantes anteriores. Sua disseminação pode ter sido acelerada pela realização da Copa América no Brasil, evento que atraiu grande número de visitantes e gerou receios sobre a propagação do vírus.
A Copa América, que foi realizada no Brasil em meio à pandemia, é um exemplo de como as medidas sanitárias podem ser negligenciadas. O episódio envolvendo a partida entre Brasil e Argentina, quando a ANVISA tentou barrar a entrada de jogadores estrangeiros devido a irregularidades sanitárias, demonstrou a falta de cuidado com as questões relacionadas ao controle da pandemia. Naquele momento, a postura negacionista predominou, agravando ainda mais a situação sanitária no país. A falta de protocolos rigorosos e a realização de eventos de grande porte, como a Copa América, podem ter contribuído para a propagação de novas variantes, como a Mu.
Portanto, enquanto a redução na média móvel de óbitos pode ser um sinal positivo, o cenário continua incerto. A combinação de vacinação, vigilância constante sobre as novas variantes e a adoção de medidas de controle eficazes será essencial para manter a queda das mortes e evitar o agravamento da crise sanitária. O Brasil, que já enfrentou desafios imensos com a pandemia, precisa continuar atento às mudanças no cenário global e nacional, com o objetivo de preservar vidas e garantir a recuperação econômica e social.