Imunização incompleta e a necessidade urgente de alcançar maior cobertura vacinal
A campanha de vacinação contra a Covid-19 no Brasil tem enfrentado desafios significativos, principalmente no que diz respeito à aplicação da terceira dose. Com o avanço da variante Delta, que já domina os novos casos no Rio de Janeiro e em São Paulo, o cenário de imunização ganha novos contornos e exige uma resposta mais rápida. A terceira dose, voltada para idosos e pessoas com problemas imunológicos, é essencial para garantir proteção adequada, mas o cenário atual de vacinação indica que o país ainda tem um longo caminho a percorrer.
Os primeiros vacinados com a CoronaVac, no início do ano, já haviam completado o esquema vacinal com a segunda dose por volta de fevereiro, dado que o intervalo entre as doses é de apenas 28 dias para esse imunizante. No entanto, com a chegada da variante Delta, a necessidade de uma terceira dose se tornou urgente para aumentar a proteção de grupos mais vulneráveis. Esse quadro é ainda mais preocupante quando se observa que apenas cerca de 30% da população tomou a segunda dose até o momento.
Um fator crucial para essa defasagem é a escolha do intervalo de 12 semanas entre as doses de AstraZeneca e Pfizer. Em muitos países, esses imunizantes foram aplicados com um intervalo mais curto, variando de 25 a 60 dias, o que permitiu um avanço mais rápido na vacinação. No Brasil, a decisão de prolongar o intervalo entre as doses resultou em um número considerável de pessoas com a primeira dose, mas sem completar o esquema vacinal com a segunda. Estima-se que cerca de 9 milhões de pessoas não tenham comparecido para a segunda dose, o que representa uma falha significativa na cobertura vacinal.
As razões para esse atraso são diversas e incluem desde problemas de saúde e imprevistos até a resistência à vacina, muitas vezes alimentada por campanhas ideológicas que minam a confiança da população nos imunizantes. Independentemente das causas, o fato é que esse número elevado de faltosos dificulta a construção de uma proteção efetiva contra o vírus e suas variantes. Caso essas pessoas completassem o esquema vacinal, a cobertura de vacinação no Brasil poderia ser de quase 75 milhões de pessoas, ou cerca de 35% da população.
A prioridade atual deve ser a ampliação da cobertura da segunda dose, para garantir que a população tenha o esquema vacinal completo. Em paralelo, a terceira dose deve ser aplicada apenas em grupos específicos que, por questões de saúde, necessitam de uma proteção extra. Em um relatório publicado recentemente, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) enfatizou que, no momento, não há necessidade urgente de administrar doses de reforço para a população geral, sendo este um tema que pode ser revisitado posteriormente, quando mais de 80% da população estiver completamente vacinada.
Portanto, enquanto a terceira dose é uma medida necessária para proteger os grupos mais vulneráveis, o foco imediato deve ser na conclusão do esquema vacinal com duas doses para a maioria da população. Apenas quando a cobertura vacinal atingir níveis adequados é que será possível pensar em uma campanha de reforço vacinal em larga escala, garantindo uma proteção mais ampla contra as novas variantes do vírus.