Com o avanço da variante Delta, o Brasil enfrenta uma terceira onda de Covid-19 e a ineficácia das medidas de contenção ameaça agravar a crise sanitária
O Rio de Janeiro vive uma preocupante realidade de aumento no número de casos de Covid-19, com uma média móvel de novos casos de 2.017, mais que o dobro do registrado há um mês. Esse aumento alarmante coloca o estado entre os 10 maiores picos de casos desde o início da pandemia, apontando a expansão da variante Delta como principal fator impulsionador dessa terceira onda de infecções. A nova cepa, que é mais transmissível e associada a um aumento de casos graves e mortes, tem demonstrado sua capacidade de driblar a imunidade adquirida, afetando até mesmo pessoas que já foram completamente vacinadas.
Este fenômeno não é uma surpresa. Em diversos países, a variante Delta seguiu o mesmo padrão de crescimento, tornando-se dominante em um curto espaço de tempo, em muitos casos superando 100% dos novos casos. Sua alta transmissibilidade e a redução na efetividade das vacinas são fatores críticos que justificam o aumento dos casos. No entanto, países com altas taxas de vacinação, como os EUA e várias nações europeias, não viram um aumento proporcional na média de mortes, apesar do crescimento de novos casos.
No Brasil, a situação é diferente. Apesar de 57,27% da população ter recebido pelo menos uma dose da vacina, a taxa de imunização completa ainda é baixa, com apenas 25,5% da população completamente vacinada. A diferença entre o Brasil e países como os EUA e Reino Unido é que, nesses países, a imunização foi muito mais eficaz, com taxas de vacinação completas que variam de 100% a 170% mais altas do que no Brasil.
A resposta das autoridades brasileiras diante desse cenário tem sido aquém do necessário. Em São Paulo, por exemplo, o governador João Doria anunciou recentemente o afrouxamento das medidas de segurança, permitindo a reabertura de setores do comércio e a realização de jogos de futebol com público. Este anúncio, que também incluiu a dissolução do comitê de contingência formado por especialistas, gerou críticas severas de profissionais da saúde. O infectologista Marcos Boulos afirmou que as decisões do governo estadual estavam sendo tomadas sem consultar o comitê de especialistas e sem levar em consideração a realidade da pandemia.
Esse comportamento reflete uma postura de negligência em relação à pandemia, priorizando interesses econômicos em detrimento da saúde pública. A variante Delta, que tem mostrado ser mais letal e resistente, aproveita esse cenário de relaxamento das medidas de segurança para se espalhar de forma ainda mais acelerada. Para Boulos, as decisões recentes são um claro sinal de que a segurança sanitária tem sido colocada em segundo plano.
No Brasil, a média móvel de mortes nos últimos sete dias é de 821, com 34.013 novos casos confirmados em apenas 24 horas. O total de casos acumulados chegou a 20.528.027, e o número de casos ativos está em 1,149 milhão. Apesar da campanha de vacinação, com 121,3 milhões de pessoas vacinadas com ao menos uma dose, o Brasil ainda enfrenta um grande desafio para imunizar completamente sua população e alcançar a proteção necessária contra a Covid-19.
O cenário é preocupante, especialmente considerando que o Brasil ocupa a segunda posição no ranking mundial de mortes, com 573.658 óbitos registrados até hoje. A crise sanitária continua a se agravar, enquanto a resposta do governo parece carecer de consistência e urgência. O país precisa acelerar a vacinação, ampliar as medidas de contenção e reforçar a proteção dos mais vulneráveis para evitar que a terceira onda da Covid-19 cause danos ainda maiores.