Enquanto a capital paulista avança com a vacinação, a crescente preocupação com a variante Delta e o aumento das mortes exigem cautela nas decisões de flexibilização
A cidade de São Paulo atingiu um marco importante na vacinação contra a Covid-19, imunizando com a primeira dose 100% da população adulta vacinável e 44% com o esquema vacinal completo. No entanto, apesar desses avanços, os dados mais recentes indicam uma preocupante alta na média móvel de óbitos, que saltou de 32 para 91 mortes diárias em apenas dez dias, um aumento de 184%. Essa disparada, somada ao baixo percentual de pessoas totalmente vacinadas – apenas 31% da população, ainda longe dos 65% observados em países como o Reino Unido – levanta questionamentos sobre a aceleração da flexibilização das medidas de restrição.
A partir de terça-feira, 17 de agosto, a capital paulista e o Estado de São Paulo adotarão medidas mais brandas, permitindo que bares, restaurantes, shoppings, academias e outros estabelecimentos comerciais funcionem sem limitações de horário ou capacidade para atendimento presencial. Além disso, eventos como feiras corporativas, convenções, exposições e até casamentos e festas de formatura estão liberados, com a exigência apenas do uso de máscaras e do distanciamento social. Embora essas mudanças sinalizem um retorno à normalidade, a persistente ameaça da variante Delta, que tem aumentado casos e óbitos em diversos países, coloca em dúvida a adequação dessas novas regras.
A variante Delta tem demonstrado um impacto considerável em países como o Reino Unido, onde o número de mortes tem aumentado de forma lenta, mas consistente, embora ainda não proporcionalmente ao aumento de casos. Essa desaceleração nas mortes é atribuída à alta taxa de vacinação, com mais de 65% da população totalmente imunizada. No entanto, a realidade de São Paulo é bem diferente, com apenas 31% da população vacinada com o esquema completo, o que aumenta o risco de uma nova onda de infecções.
A Sociedade Paulista de Infectologia, por meio de uma nota divulgada pelo jornal Estadão, expressou grande preocupação com a flexibilização das restrições. Segundo a entidade, a abertura das atividades deveria ser mais gradual e cautelosa, considerando os riscos impostos pela variante Delta. A sociedade alertou que a “retomada segura” proposta pela gestão do governador João Doria poderia gerar uma nova onda de Covid-19 no Estado, o que exigiria um controle mais rigoroso da disseminação do vírus.
Apesar das críticas, o governador Doria defendeu a decisão, alegando que a obrigatoriedade do uso de máscaras será mantida até o fim do ano, e que a diminuição nas taxas de ocupação de UTIs e a queda nos índices gerais da pandemia justificariam a flexibilização. No entanto, a simples disponibilidade de leitos de UTI não pode ser o único critério para a flexibilização das medidas. É importante lembrar que mais de 50% dos pacientes com Covid-19 que são internados em unidades de terapia intensiva acabam falecendo. Assim, o foco deveria ser uma combinação de medidas sanitárias eficazes, como a ampliação da vacinação completa, e um controle mais rigoroso da circulação do vírus.
No Brasil, a situação permanece grave. Hoje, o país registrou 985 mortes, com o total de óbitos acumulados ultrapassando 571 mil. O número de casos ativos continua elevado, com mais de 1,1 milhão de pessoas ainda lutando contra a doença. Embora o Brasil tenha vacinado 56% da população com pelo menos uma dose, apenas 24,77% está completamente imunizada. Esse cenário, aliado ao avanço da variante Delta, coloca o país em uma posição de vulnerabilidade, como já observado em outras nações que passaram por uma nova onda de infecções e óbitos, mesmo com altos índices de vacinação.
A questão central, portanto, é a necessidade de um equilíbrio entre a retomada da economia e a proteção da saúde pública. A flexibilização das medidas, sem uma maior cobertura vacinal, pode resultar em consequências desastrosas, como o aumento da circulação do vírus e a sobrecarga do sistema de saúde. O Brasil, especialmente São Paulo, precisa agir com mais prudência para evitar retrocessos no combate à pandemia e proteger a população das novas variantes que continuam a desafiar os esforços de imunização e controle.