Terceira Dose da Vacina contra a Covid-19: Discussões e Desafios no Brasil

À medida que a variante Delta avança, autoridades de saúde no Brasil ponderam a aplicação de doses adicionais, mas a prioridade parece ser a ampliação da vacinação completa

Em uma entrevista recente à GloboNews, o secretário da Saúde da cidade de São Paulo, Edson Aparecido, revelou que a Secretaria Municipal de Saúde está avaliando a viabilidade de administrar uma terceira dose da vacina contra a Covid-19 em idosos e profissionais de saúde. Esses grupos foram os primeiros a serem vacinados no país, e a medida é discutida com o Ministério da Saúde, que, segundo o secretário, já está considerando a possibilidade dentro do Plano Nacional de Imunização (PNI).

A proposta da terceira dose tem gerado debates. Por um lado, há um questionamento sobre a necessidade dessa medida e sua eficácia, sendo que, até o momento, estudos indicam que a dose extra seria relevante principalmente para pessoas imunodeprimidas, funcionando mais como uma complementação às duas doses iniciais, e não como um reforço. Países como França e Estados Unidos já autorizaram a aplicação da terceira dose em pessoas com imunodeficiência. No entanto, a questão continua em aberto para outras populações.

Israel, por exemplo, estendeu a dose extra para todas as pessoas com mais de 60 anos, enquanto França, Reino Unido e Alemanha também planejam seguir esse caminho a partir de setembro. No Chile, a terceira dose foi iniciada para idosos que receberam a CoronaVac, enquanto os países europeus e os EUA priorizam as vacinas Pfizer e AstraZeneca. O ponto em comum entre esses países é que todos têm níveis de cobertura vacinal muito mais elevados do que o Brasil, principalmente no que se refere ao esquema vacinal completo.

No Brasil, menos de 24% da população recebeu a segunda dose, o que levanta preocupações sobre a eficácia de uma possível terceira dose. Em vez de focar no reforço para certos grupos, a prioridade poderia ser aumentar rapidamente a cobertura da população com o esquema completo de vacinação. Além disso, a vacinação de adolescentes (12 a 18 anos), que já foi iniciada no país, pode dificultar esse avanço, uma vez que o foco ainda não está na imunização de adultos, especialmente os mais vulneráveis.

A crescente disseminação da variante Delta tem gerado mais incertezas sobre o futuro da pandemia. A variante, que é altamente transmissível, tem conseguido driblar o sistema imunológico, infectando mesmo as pessoas vacinadas, e afetando a eficácia das vacinas, que só alcançam resultados satisfatórios com o esquema completo de duas doses. Em um cenário como esse, a declaração de Andrew Pollard, líder da pesquisa da vacina AstraZeneca, em uma audiência no parlamento britânico, trouxe um alarme. Pollard afirmou que a variante Delta coloca fim à possibilidade de alcançar a imunidade coletiva, considerando-a um mito, já que as pessoas vacinadas ainda podem ser infectadas e transmitir o vírus.

A perspectiva de erradicar a doença parece cada vez mais distante, o que sugere que o novo coronavírus pode se tornar uma doença endêmica, ou seja, que permanecerá entre nós de forma contínua. Nesse contexto, as vacinas ainda são fundamentais, principalmente para prevenir formas graves da doença e óbitos. Contudo, será necessário apostar em estratégias mais adaptativas, com o desenvolvimento de medicamentos e terapias mais eficazes, além de campanhas periódicas de vacinação, para manter o controle sobre a pandemia a longo prazo. O cenário atual exige flexibilidade nas abordagens de saúde pública e uma ênfase na imunização em massa, sem perder de vista a necessidade de ajustes contínuos no enfrentamento da crise sanitária.

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