Pandemia: o carro na frente dos bois.o carro na frente dos bois

A GloboNews entrevistou ontem (16) o secretário da Saúde da cidade de São Paulo, Edson Aparecido, que informou que a secretaria está analisando a viabilidade de uma terceira dose da vacina contra a Covid-19 em idosos e profissionais de saúde, que foram os primeiros a tomarem o imunizante. Disse o secretário:

“Estamos discutindo a possibilidade de vacinar os dois primeiros grupos, idosos e profissionais de saúde. Tive uma conversa com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sobre essa questão, e ele nos informou que o Plano Nacional de Imunização (PNI) e o Ministério da Saúde estuda a questão da aplicação da terceira dose”.

Essa é uma discussão inconclusa, há dúvidas se tal medida é necessária, se seria eficaz uma dose de reforço. Estudos somente corroboram a dose extra para imunodeprimidos em que a aplicação funcionaria não como reforço, mas como complementação às duas doses iniciais. França e os EUA já aprovaram a terceira dose para pessoas com imunodeficiências.

Israel, no entanto, ampliou a oferta da dose extra para todas as pessoas maiores de 60 anos e a França, o Reino Unido e a Alemanha pretendem seguir o mesmo caminho a partir de setembro. O Chile também iniciou a terceira dose da CoronaVac para idosos, lembrando que os demais países citados utilizaram Pfizer e AstraZeneca.

Diferentemente do Brasil e da cidade de São Paulo, todos esses países têm níveis de cobertura vacinal muito maiores que o nosso, principalmente no critério segunda dose ou esquema vacinal completo. Portanto, avaliam a terceira dose para populações mais vulneráveis a partir de um patamar alto de imunização da população em geral.

Toda essa discussão e essas medidas são motivadas pelo aparecimento da variante Delta que tende, pela sua transmissibilidade, tornar-se prevalente em todo lugar em que está se disseminando. Variante que tem driblado de forma eficaz o sistema imunológico e infectado mesmo vacinados, além de impactar a efetividade da vacinação que atinge nível satisfatório somente com as duas doses.

Aqui menos de 24% da população recebeu a segunda dose, o que me leva a suspeitar que a prioridade seria a de aumentar mais rapidamente o percentual de pessoas com vacinação completa, ressalvando a prioridade das pessoas imunodeprimidas. Mas por aqui temo que estejamos pondo o carro à frente dos bois, inclusive iniciando a vacinação de adolescentes (12 a 18 anos), o que dificulta ainda mais a ampliação dos totalmente vacinados.

Essas definições são cruciais frente a gravidade do aparecimento da variante Delta que veio para aumentar muito grau de incertezas do futuro da pandemia. Um exemplo dramático disso é a declaração Andrew Pollard, líder do grupo que criou a AstraZeneca na Universidade de Oxford, perante os deputados britânicos no parlamento. Pollard defendeu que a Delta põe fim à possibilidade da criação da imunidade coletiva, classificando-a de um mito.

O raciocínio é que, se as pessoas vacinadas podem ser infectadas e podem transmitir o vírus, não se cria a barreira às pessoas não vacinadas, desconstruindo a ideia de imunidade coletiva (ou de rebanho) contra o SARS-CoV-2.

As vacinas serviriam para que? Seriam ainda muito eficazes na prevenção das formas graves e de mortes, o que não é pouco. Interessante pensar que esse quadro nos obriga a apostar estratégias que não passam necessariamente pela erradicação da doença que passaria a ser um mal de caráter endêmico.

Isso significa que teremos que conviver com a presença do novo coronavírus e apostando no desenvolvimento de novos medicamentos e terapias mais eficazes e, possivelmente, campanhas periódicas de vacinação em massa.

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