Decisão beneficia o calendário de vacinação paulista, mas o país enfrenta desafios na produção e entrega de vacinas
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu recentemente em favor do Governo de São Paulo, determinando que o Ministério da Saúde repassasse mais 228 mil doses da vacina Pfizer, após uma polêmica envolvendo a distribuição de imunizantes. O conflito começou no início de agosto, quando o governador João Doria acusou o Ministério da Saúde de entregar apenas metade do lote de vacinas de acordo com o cronograma acordado, sem aviso prévio ou negociação. Doria argumentou que esse descumprimento poderia prejudicar o calendário de vacinação da capital paulista.
Em outro cenário, o país enfrenta um possível déficit de vacinas AstraZeneca para a segunda dose em setembro. Para que as necessidades fossem supridas, seriam necessárias 60 milhões de doses, mas a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela produção, tem capacidade de entregar pouco mais de 25 milhões. A questão não é a produção em si, mas a escassez de insumos importados, que estão chegando em um ritmo inferior ao contratado. Para minimizar a falta, o Ministério da Saúde autorizou a troca da segunda dose de AstraZeneca pela Pfizer, uma medida que já é adotada com segurança em mulheres grávidas e puérperas, conforme a recomendação da Anvisa.
Embora a troca de vacinas não apresente riscos adicionais, de acordo com estudos, o principal problema está relacionado à insegurança sanitária derivada da dependência de insumos, principalmente para as vacinas AstraZeneca e CoronaVac, que dependem do IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo). Por outro lado, a Pfizer tem mantido o cronograma de entregas com maior precisão, o que reforça a necessidade de um investimento mais significativo no desenvolvimento de vacinas e imunizantes nacionais, como as em teste, ButanVac e Versamune.
Essa situação revela a importância de o Brasil se tornar mais autossuficiente na produção de vacinas e medicamentos estratégicos. Hoje, o país importa mais de 90% dos medicamentos e insumos necessários para o setor de saúde, e curiosamente, mais da metade desses itens vem da China. Isso destaca a vulnerabilidade do país em uma pandemia global, onde o fornecimento internacional pode ser impactado por diversos fatores.
Além disso, a situação atual reforça que as variantes do Sars-CoV-2 tornam a erradicação do vírus improvável, o que sugere que o Brasil precisará se adaptar a campanhas sazonais de vacinação. Esse contexto deve servir de lição para uma revisão mais profunda das políticas de produção e distribuição de imunizantes, para garantir a proteção da população a longo prazo.
Dados no Brasil e no Mundo
No Brasil, os números da pandemia continuam alarmantes, com 1.137 mortes registradas nas últimas 24 horas, elevando o total de óbitos para 570.718. O número de casos confirmados aumentou em 38.218, e a média móvel de mortes nos últimos sete dias é de 833. A vacinação segue em andamento, com 54,77% da população recebendo pelo menos uma dose e 23,85% imunizada com o esquema completo.
No cenário global, o número de casos ultrapassou 209 milhões, com 4,39 milhões de mortes. O Brasil ocupa a segunda posição no total de óbitos, com os Estados Unidos liderando a lista com 639,7 mil mortes. A situação é particularmente grave em países como Índia, México e Rússia, que também apresentam altas taxas de infecção e mortalidade.
Esses números destacam a importância da vacinação contínua e a necessidade de ações coordenadas entre governos e organizações internacionais para mitigar os impactos da pandemia. O Brasil, como grande nação, precisa investir na produção de vacinas e medicamentos para garantir um futuro mais seguro e menos dependente de fornecedores internacionais.