Reflexões sobre o movimento radical, sua origem, a omissão democrática e o impacto da intervenção estrangeira
O Talibã, grupo fundamentalista e extremista que voltou a tomar o controle do Afeganistão, é uma organização que não pode ser relativizada ou apoiada sob qualquer hipótese. Sua atuação é um reflexo de uma longa trajetória de violência, radicalismo e opressão, sustentada por um processo de aliciamento e manipulação das comunidades locais através do tráfico de armas e da corrupção do Estado afegão. Embora se envolva em uma retórica anti-imperialista, frequentemente apontando os Estados Unidos como inimigo comum, suas ações e ideais são uma negação dos direitos humanos e da liberdade.
A história do Talibã não pode ser entendida apenas sob a ótica de um grupo nacionalista ou contra um inimigo externo. Sua essência é o extremismo totalitário, que não admite qualquer moderação ou concessão. Mesmo que, momentaneamente, façam promessas de respeitar alguns direitos civis e políticos das mulheres, a falta de uma estrutura democrática sólida torna essas promessas frágeis e vulneráveis a futuras revogações. A atuação do Talibã sempre se baseou em sua visão de um mundo controlado pelo autoritarismo e pela exclusão de qualquer liberdade que contrarie sua ideologia radical.
É importante destacar que a ascensão do Talibã não pode ser dissociada da intervenção dos Estados Unidos no Afeganistão. Embora os crimes do Talibã sejam inegáveis, a invasão estadunidense, que deu início a um conflito sangrento, é um fardo histórico que os EUA terão de carregar. A guerra no Afeganistão e a posterior ocupação foram um terreno fértil para a radicalização e o fortalecimento de movimentos como o Talibã, que se alimentaram do caos e da destruição causados pela intervenção externa.
O povo afegão, mais uma vez, é a maior vítima dessa tragédia. A esperança de uma vida melhor ou de uma saída do sofrimento se limita a uma corrida desesperada para os aeroportos, enquanto aviões sobrevoam suas cabeças, representando não só a fuga para o exterior, mas a desesperança de quem não encontra espaço para viver com dignidade em sua própria terra. A situação do Afeganistão é um triste lembrete de que, em conflitos tão devastadores, os povos são as maiores vítimas de um jogo de poder que se trava entre interesses estrangeiros e regimes violentos.