Só não dá para naturalizar

Estudo divulgado na quinta-feira (12) na revista New England Journal of Medicine liderado por cientistas da Public Healh England, que é a agência britânica de saúde pública indicam que:

1- Há uma menor efetividade das vacinas Pfizer e Aztrazeneca contra a variante Delta após uma única dose do que quando comparada com a variante Alfa (aqui a variante predominante é, até o momento, a Gama);


2- A diferença absoluta da efetividade contra diferentes variantes foi considerada pequena após duas doses (não foi avaliada a Janssen, de dose única).


3- O estudo avaliou somente a efetividade da vacinação contra doença sintomática, sem informações sobre o impacto de diferentes variantes sobre a proteção contra doença grave, hospitalização, morte ou infecção assintomática.

Então as vacinas funcionam? A resposta segue sendo sim. Se há uma diminuição da efetividade, a resposta também é que sim, sendo mais significativa na primeira dose e apenas uma diferença discreta com as duas doses ou imunização completa.

Os números do estudo, resumidamente são: diminuição de 50% para 35% de efetividade para a primeira dose é de 93,7% para 88% de proteção no caso da Pfizer e 74,5% para 67% no caso da AstraZeneca. Importante ressaltar que esses números mais rebaixados seriam comemorados como sucesso se analisados em si, sem comparação com um dado melhor.

Conclusão para nós é que vacinas seguem sendo fundamentais e bastante úteis para o controle da pandemia. Outra coisa é que se trata de efetividade, ou seja, a vacina funcionando no jogo real, no campeonato, diferente da eficácia que resulta de testes controlados.

Isso quer dizer que entram em jogo vários fatores e entre eles a velocidade da vacinação. Em tese, o ideal seria vacinar todas as pessoas vacináveis em um curto intervalo de tempo. Quanto tempo é isso? Considerando experiências anteriores de campanhas de vacinação, sem a limitação da escassez de imunizantes, 120 dias para completar as duas doses.

Outro fator é o percentual da população vacinada para se atingir a imunidade de rebanho, capaz de enfraquecer significativamente a transmissão e tirar a Covid-19 da condição de surto epidêmico.

Esse número depende de muitos fatores, mas se cravou os 70% da população como recomendação, baseada em histórico de outras epidemias e no acúmulo de conhecimentos da epidemiologia.

Nesse ponto a variante Delta já traz desconfiança se de fato 70% é uma taxa eficaz. A própria OMS tem sugerido que seja elevada para 80%, isso por conta da capacidade do vírus se instalar em imunizados, mesmo em infecções não sintomáticas. O Brasil está agora com perto de 30% de vacinados em esquema completo.

No geral, persiste a necessidade de se seguir vacinando e de manter-se (no nosso caso, ampliar) as medidas de cuidado como máscara, não aglomerar e outros. Especificamente para nós, urge ampliar o percentual de vacinados em segunda dose ou de vacina de dose única. Nossos 23,15% são terrivelmente baixos.

Na maioria dos países europeus o intervalo entre doses varia de 25 a 60 dias e aqui, para AstraZeneca e Pfizer é de 84 dias (12 semanas) e isso é muito. O argumento de que faltam, e faltariam mais, imunizantes para diminuir o intervalo não é exatamente um argumento, mas uma triste constatação.

O argumento de que ir mais rápido na primeira dose é a melhor decisão para o manejo da pandemia é sim um argumento, que considero válido até a variante Delta eclodir. Sendo a Delta a de maior prevalência, melhor apressar a segunda dose.

Mesmo com escassez de vacinas, penso que temos que dizer o que de fato precisa ser feito e cobrar a responsabilidade de quem de fato deve ser responsabilizado. O que não dá é para naturalizar a desgraça.

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