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Um estudo divulgado na terça-feira (10) pelo Imperial College (Reino Unido) comprova mais uma vez a eficácia das vacinas contra o Sars-CoV-2, mas ressalta a necessidade de se completar o esquema vacinal com duas doses (ou vacina de dose única).

Como já escrevi diversas vezes, a variante Delta tem sido responsável por um expressivo aumento de casos em vários países, com destaque para EUA, França, Reino Unido, Espanha e Itália.

A regra nesses países tem sido a de que o aumento de casos não corresponde a um aumento proporcional de mortes, mas há sim aumento da média móvel de mortes. Isso nos tranquilizaria? A resposta é não.

O primeiro motivo é que esses países têm uma cobertura vacinal maior que a nossa e no quesito imunizados (esquema vacinal completo), uma diferença mais ampla, de 2,5 a 3 vezes maior.

Isso se dá pelo fato da evolução da vacinação da primeira e da segunda doses nesses países terem sido mais próximas. Consegue-se isso estabelecendo intervalos menores entre as doses. Aqui somente a CoronaVac teve intervalo curto, de três semanas. A AstraZeneca e Pfizer foram aplicadas com intervalo de 12 semanas e nos países citados variou de 4 a 8 semanas.

O resultado é que a França, por exemplo, tem taxas de vacinação de 72% da população em primeira dose e 62% com vacinação completa. O Brasil tem 52% e 22%, respectivamente.

Na prática, a segurança de que a vacinação nos protegerá de um avanço da variante Delta fica limitada pela nossa apenas razoável cobertura em primeira dose e fraquíssima cobertura em imunização completa.

Junte-se isso à nossa já proverbial incapacidade de decretar e sustentar medidas de isolamento e a adesão fraca de cuidados com aglomeração e uso de máscara, e temos um cenário que aponta riscos enormes de uma escalada da pandemia.

Quando falo de frágeis medidas de isolamento me refiro, por exemplo, ao fato de sermos o segundo país com mais mortes pela pandemia e podermos contar nos dedos quando e onde tivemos medidas duras, como lockdown, em contraste com os países europeus acima citados, que tiveram até mesmo lockdown nacional, por mais de uma vez.

Agrava esse quadro o dado que o Ministério da Saúde divulgou de que 7 milhões de pessoas que tomaram a primeira dose não retornaram para a segunda.

Mesmo considerando que esse dado pode estar impreciso, por falhas nos registros, por exemplo, o mais provável é que o número seja realista, o que é mais um furo no nosso programa de vacinação.

Assim, a reiterada boa notícia da eficácia das vacinas, inclusive contra a variante Delta, aqui, no nosso contexto também nos faz lembrar de como poderíamos estar muito mais adiantados no nosso plano de vacinação, não fosse o negacionismo de uns e o senso de oportunidade para operar negociatas de outros.

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