Com um estoque de 9,5 milhões de doses paradas e a variante Delta avançando, o Brasil enfrenta sérios desafios na aceleração da vacinação e no controle da pandemia.
O Ministério da Saúde admitiu que cerca de 9,5 milhões de doses das vacinas CoronaVac e Pfizer estão paradas no Centro de Distribuição Logística, em Guarulhos (SP), enquanto o Brasil enfrenta uma crescente ameaça da variante Delta, especialmente no Rio de Janeiro, que se configura como o epicentro dessa nova cepa. A falta de organização na distribuição das vacinas, somada ao descompasso entre a chegada das doses e os procedimentos necessários para seu envio aos estados, revela não apenas incompetência, mas também um descaso alarmante com o controle da pandemia.
A situação é ainda mais preocupante quando se observa que a Fiocruz, uma das maiores instituições de saúde do país, alertou para o aumento das mortes por Síndrome Aguda Respiratória Grave (SARG), que, em mais de 95% dos casos, acabam sendo confirmadas como mortes por COVID-19. Apesar do grande consenso entre especialistas sobre a maior transmissibilidade da variante Delta, há a ressalva de que a proteção das vacinas só é garantida com o esquema vacinal completo — ou seja, duas doses, exceto para a vacina Janssen.
O Brasil ainda está muito aquém de atingir uma taxa de vacinação eficaz. Com menos de 23% da população imunizada com as duas doses, e grandes variações entre estados, a situação se torna ainda mais alarmante no Rio de Janeiro, onde a taxa de imunização completa é de apenas 22,5%, ligeiramente inferior à média nacional. Essa discrepância levanta uma pergunta crucial: por que não há um esforço especial de vacinação no Rio de Janeiro, especialmente na capital carioca, que é o epicentro da variante Delta?
O Rio de Janeiro, ao lado de outras regiões com alta circulação da variante Delta, necessita urgentemente de uma mobilização maior para acelerar a vacinação e garantir que a população receba as duas doses. A capital fluminense deveria ser priorizada para garantir que a variante, que tem se mostrado mais transmissível e perigosa, não continue a se espalhar descontroladamente.
Outro ponto crítico é a falta de discussão e ações concretas para acelerar a aplicação da segunda dose em todo o país. Embora a cidade de São Paulo tenha anunciado, como uma medida inédita, a abertura de inscrições para a fila de espera da “xepa” para antecipar a segunda dose, essa ação ainda é uma exceção, não uma regra. A aceleração da segunda dose é crucial para garantir a imunização completa da população, e o exemplo de São Paulo poderia servir de modelo para outras cidades, especialmente aquelas com alta circulação da variante Delta.
O Brasil está diante de um momento crucial em sua luta contra a pandemia, e as falhas na gestão da vacinação são evidentes. O país não pode mais se dar ao luxo de continuar ignorando os alertas de especialistas e o avanço da variante Delta. A aceleração da vacinação, especialmente com a segunda dose, deve ser uma prioridade nacional, e a falta de ação imediata nas regiões mais afetadas só prolongará a crise sanitária e aumentará as mortes.