Vírus dominante

Tá tudo dominado. Esse bordão de facções ou de milícias se aplica à variante Delta no Rio de Janeiro. Como se trata de ocupação de área com inequívoca contribuição do aparelho de estado, prefiro tratar (simbolicamente) esse nova onda como uma ação de milícia.

Quando falo na participação do estado brasileiro favorecendo a “ocupação” pelo vírus do território carioca, refiro-me certamente à ação do governo federal, mas não somente. A cidade do Rio de Janeiro já foi governada por Crivella, prefeito declaradamente negacionista que defendeu publicamente a imunidade de rebanho por contágio livre, além de se opor a medidas de isolamento tentando manter templos abertos, entre outras medidas.

Paes, o atual prefeito, é o que eu chamo de um antinegacionista retórico, mas negacionista quando se trata da ação. A mais recente demonstração foi o anúncio da licitação da festa de réveillon, mega-aglomeração de 2 milhões de pessoas. Fez a publicação no mesmo dia em que o Rio bateu recorde de novos casos da Covid-19.

O Rio que já ostenta alguns nefastos recordes da pandemia, como o da segunda capital com maior mortalidade e estar entre as 50 cidades brasileiras com maior taxa de mortalidade por 100 mil habitantes. Mas tem agora um novo e preocupante recorde, que é da prevalência da variante Delta.

Com esse retrospecto e nessa conjuntura, certamente não cabe falar em relaxamento de medidas e de anúncios retumbantes de realizar a maior festa do mundo.

O médico infectologista Marcos Junqueira do Lago, em reportagem da CNN-Brasil disse (sobre a Delta) “Dominou o Rio e vai dominar o Brasil inteiro, a não ser que apareça uma (variante) mais eficaz do que ela”. Em seguida, comparado com o que se passou no Reino Unido, afirmou que “Depois da vacinação em massa no fim do ano no Reino Unido, o número de mortes e de casos caiu de forma vertiginosa. Em julho houve aumento, justamente por causa da Delta”.

Acrescento, como agravante, que a vacinação em massa proporcional à população é 3 vezes maior no Reino Unido que no Rio, particularmente no quesito imunização completa. Frente a tudo isso, o Ministério da Saúde anuncia aumento de 5% no envio de vacinas para o Rio, o que certamente será insuficiente para conter o avanço da variante.

Mais uma vez é o governo federal omitindo-se de seu papel de coordenação do combate à pandemia.

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