O Avanço da Variante Delta no Rio de Janeiro: A Falta de Ação e o Negacionismo Institucional

O Rio de Janeiro enfrenta a ocupação crescente da variante Delta, mas a falta de ações coordenadas e a postura negacionista do poder público colocam em risco a saúde da população.

O bordão “tá tudo dominado”, associado a facções ou milícias, parece se aplicar de maneira simbólica ao avanço da variante Delta no Rio de Janeiro. Como uma ação de ocupação, essa nova onda da pandemia ganha contornos de uma milícia que, ao invés de ser liderada por criminosos, recebe a contribuição ativa do aparelho de estado, particularmente da gestão pública. Ao se referir ao papel do governo federal nesse cenário, é importante destacar que o problema não é apenas o descaso federal, mas também a postura de líderes municipais, como o prefeito Eduardo Paes, que contribuem diretamente para o agravamento da situação.

A gestão do ex-prefeito Marcelo Crivella já foi marcada por um negacionismo explícito, com posicionamentos públicos favoráveis à imunidade de rebanho e à abertura de templos religiosos, mesmo em meio à pandemia. Embora Paes tenha se posicionado contra o negacionismo de Crivella em termos retóricos, suas ações têm sido contraditórias. O recente anúncio da licitação da festa de réveillon, que promete atrair cerca de 2 milhões de pessoas para uma megaaglomeração no Rio, exemplifica a falta de sensibilidade e a irresponsabilidade diante do crescente número de casos de Covid-19. Esse anúncio, feito justamente no dia em que a cidade atingiu um recorde de novos casos, revela uma postura que privilegia a economia e o turismo em detrimento da vida e da saúde pública.

O Rio de Janeiro, além de já ostentar o título de segunda capital com maior mortalidade por Covid-19, agora se destaca pela prevalência da variante Delta, que tem se espalhado rapidamente, gerando um aumento de casos. O médico infectologista Marcos Junqueira do Lago, em entrevista à CNN-Brasil, afirmou que a Delta já dominou o Rio e tem o potencial de se espalhar por todo o Brasil, a menos que uma variante mais eficaz surja. Comparando a situação com o Reino Unido, Junqueira destacou que o aumento de casos no Reino Unido, em julho, foi causado precisamente pela Delta, mas após uma vacinação em massa, o número de casos e mortes caiu de forma significativa. No entanto, essa vacinação em massa foi três vezes mais eficaz no Reino Unido do que no Rio, especialmente no que se refere à imunização completa.

Enquanto o Reino Unido mostra uma tendência de controle da pandemia após a vacinação em massa, o Rio de Janeiro ainda enfrenta dificuldades em alcançar uma cobertura vacinal robusta. O Ministério da Saúde anunciou um aumento de apenas 5% no envio de vacinas para o estado, uma medida claramente insuficiente para frear o avanço da variante Delta. O Brasil já enfrentou a falha na coordenação da resposta à pandemia desde o início, e essa omissão do governo federal continua a agravar a crise no Rio de Janeiro e em outras partes do país.

A ausência de um plano coordenado e a persistência de atitudes irresponsáveis por parte das autoridades locais e federais demonstram que, embora a pandemia esteja longe de ser controlada, os gestores continuam a agir com negligência. A resistência ao isolamento social, o favorecimento de eventos massivos e a falta de uma vacinação eficaz colocam em risco a vida de milhões de brasileiros, especialmente em um estado como o Rio de Janeiro, onde a variante Delta já começou a se espalhar de maneira alarmante.

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