Enquanto o Brasil enfrenta um crescimento no número de mortes e uma disparidade significativa na distribuição da vacinação, a falta de coordenação entre os governos estadual e federal agrava a situação de saúde pública.
Nos últimos 15 dias, o Brasil ultrapassou quatro países no índice das maiores taxas de mortalidade por 100 mil habitantes, agora ocupando a quinta posição global, com 266,7 óbitos para cada 100 mil pessoas. Apenas o Peru, Hungria, Bósnia e República Tcheca têm taxas mais altas, mas com uma população total somada de menos de 60 milhões de pessoas, o que coloca o Brasil em uma situação alarmante. A situação é ainda mais preocupante quando observamos as disparidades regionais: enquanto o Maranhão apresenta a menor taxa de mortalidade, Mato Grosso ostenta a maior, com uma diferença de mais de 170%.
Essa desigualdade não se limita apenas à mortalidade, mas também se reflete na forma como a vacina está sendo distribuída. Desde o início da pandemia, o vírus se espalhou rapidamente pelo país, atingindo todos os 5.570 municípios brasileiros até dezembro de 2020. Atualmente, apenas 32 municípios não registraram mortes por Covid-19 desde o início da pandemia, o que representa 0,6% do total.
Em relação à vacinação, a disparidade é igualmente alarmante. O Pará e São Paulo apresentam uma diferença de 165% na taxa de vacinação por 100 mil habitantes, e a variação no índice de pessoas imunizadas (com esquema vacinal completo) entre os estados mais e menos vacinados chega a 193%. Essa diferença não é resultado de uma estratégia de vacinação pensada para considerar as particularidades de cada estado, como a taxa de transmissão ou a capacidade da rede hospitalar. Em vez disso, a distribuição de vacinas tem seguido exclusivamente o critério populacional, e a capacidade dos estados de aplicar as doses tem sido o principal fator a determinar a cobertura vacinal.
A falta de coordenação entre os governos federal e estadual tem sido uma das grandes falhas da campanha de vacinação. A atual gestão do Ministério da Saúde não tem articulado uma estratégia nacional que garanta uma distribuição equitativa e eficiente das vacinas, o que resulta em uma situação de desorganização. Frequentemente, os estados enfrentam interrupções na vacinação devido a atrasos no fornecimento das doses, como foi o caso recente da cidade do Rio de Janeiro, que anunciou a suspensão da aplicação da primeira dose devido ao atraso na entrega de vacinas pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações). Um atraso, embora pareça simples, significa mais pessoas desprotegidas, mais doentes e mais mortes.
Atualmente, o Brasil registra 564.890 mortes acumuladas por Covid-19 e 20.213.388 casos confirmados. Embora a vacinação tenha avançado, com 51,57% da população já recebendo ao menos a primeira dose, apenas 22,15% está completamente imunizada, sendo que 3,965 milhões receberam dose única. Isso coloca o Brasil em uma posição precária, com mais de 1,1 milhão de casos ativos e uma média móvel de mortes de 899 por dia nos últimos sete dias. Comparando com os dados globais, o Brasil ocupa a segunda posição em número total de mortes, atrás apenas dos Estados Unidos.
Os dados indicam que, apesar do esforço contínuo de vacinação, o Brasil ainda está longe de alcançar a imunidade de rebanho e, sem uma coordenação mais eficaz entre os níveis de governo, a pandemia continuará a causar sofrimento e morte por todo o território nacional. O cenário global também permanece preocupante, com os Estados Unidos liderando em número absoluto de mortes, seguidos por Brasil, Índia e México, e a vacinação continua sendo uma chave para a recuperação, mas a desigualdade no acesso e na aplicação das vacinas precisa ser urgentemente enfrentada para salvar vidas.