Enquanto o Brasil busca aumentar a cobertura vacinal, comparações internacionais revelam desafios, como o impacto das variantes do vírus e a estratégia de imunização completa.
A vacinação contra a Covid-19 tem avançado de maneira desigual em diferentes partes do mundo, e as taxas de imunização variam substancialmente. No Brasil, cerca de 48% da população foi vacinada com pelo menos uma dose, mas apenas 20% completaram o esquema vacinal. Em comparação, o Japão tem 40% da sua população vacinada, mas 30% imunizada, o que revela uma estratégia de vacinação diferente, que priorizou a imunização completa, algo que se reflete na maior eficácia contra a variante Delta.
Em termos proporcionais, o Japão tem 74 imunizados para cada 100 vacinados, enquanto o Brasil tem 41 imunizados para cada 100 vacinados. Isso pode parecer contraintuitivo, já que o Brasil vacinou uma maior parte da população, mas o Japão priorizou a imunização completa com duas doses (ou uma dose única da Janssen), o que é crucial para aumentar a eficácia contra variantes do vírus, como a Delta. O Reino Unido, por exemplo, tem 81 imunizados para cada 100 vacinados, destacando a importância de garantir que as pessoas recebam as duas doses da vacina, especialmente diante da ameaça das novas variantes.
No Brasil, a estratégia de vacinação foi inicialmente focada na cobertura rápida, com o objetivo de vacinar o maior número de pessoas possível com pelo menos uma dose. Isso resultou na decisão de ampliar o intervalo entre as doses da vacina Pfizer de 21 para 12 semanas, com o intuito de alcançar uma maior cobertura vacinal, mas sem considerar completamente o impacto da variante Delta. A Delta, que já é predominante em várias regiões do mundo, pode impactar negativamente os esforços de vacinação, e é essencial que o Brasil ajuste sua estratégia conforme o avanço dessa variante.
A vigilância genômica e a testagem para detectar a variante Delta têm sido um desafio no Brasil. A falta de uma vigilância robusta e de testes suficientes pode dificultar a identificação precoce de surtos e a tomada de decisões rápidas. O Brasil está classificado em 80ª posição mundial em testes realizados, o que evidencia a necessidade urgente de melhorar a capacidade de diagnóstico e rastreamento.
Enquanto isso, o avanço da vacinação tem sido prejudicado pela escassez de doses, com o gargalo principal sendo a quantidade de vacinas disponíveis, e não a capacidade de distribuição. Em algumas regiões, como São Paulo, já se fala na vacinação de adolescentes, mas especialistas sugerem que a prioridade deveria ser a segunda dose para adultos, garantindo que a proteção completa seja alcançada. Uma redução gradual do intervalo entre as doses, como de 12 para 8 semanas, poderia ser uma estratégia viável, desde que haja vacinas suficientes para isso.
A situação do Brasil ainda é preocupante, com uma média móvel de mortes nos últimos sete dias superior a 900 e um número crescente de casos ativos. O total de mortes já ultrapassa 557 mil, o que coloca o país em segundo lugar no ranking mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. A vacinação tem mostrado resultados positivos, mas os números ainda não são suficientes para garantir a segurança e controle da pandemia. O Brasil precisa agir com rapidez para adaptar sua estratégia de vacinação e rastreamento, a fim de evitar uma reversão no quadro atual, como aconteceu em outras partes do mundo.
Diante deste cenário, é crucial que o Brasil implemente uma estratégia mais equilibrada, priorizando tanto a vacinação completa quanto a detecção precoce das variantes, para evitar uma nova onda de infecções e mortes. A experiência de outros países, como o Japão e o Reino Unido, demonstra que a imunização completa é a chave para garantir maior eficácia contra variantes do vírus, e o Brasil precisa intensificar seus esforços nesse sentido.