Excesso de Vacinas no Brasil: Análises e Desafios para a Vacinação

Apesar de muitas previsões falarem em escassez, números mostram que o Brasil pode ter vacinas suficientes para vacinar toda a população ainda este ano, mas há questões logísticas e de planejamento.

Em um cenário que até agora tem sido marcado pela escassez de vacinas contra a Covid-19 no Brasil, os números indicam que, se tudo for cumprido conforme o contratado, o país pode ter um excedente considerável de imunizantes. Até o final de 2021, o Brasil tem contratos firmados para a compra de 564,5 milhões de doses, distribuídas entre diferentes fabricantes: Pfizer (200 milhões), AstraZeneca (260 milhões), CoronaVac (100 milhões), COVAX Facility (42 milhões) e Janssen (4,5 milhões). Esse total seria suficiente para vacinar 284,5 milhões de pessoas, ou 79% da população brasileira, considerando a imunização com duas doses (exceto a Janssen, que é dose única).

No entanto, se a meta de vacinação for atingir 85% da população, cerca de 175 milhões de pessoas seriam vacináveis, necessitando de 350 milhões de doses para completar o esquema vacinal. Com isso, o Brasil teria 210 milhões de doses a mais do que o necessário. Embora o país tenha recebido até o momento 175 milhões de doses e distribuído 145 milhões, a quantidade contratada, somada ao ritmo de entrega das vacinas, tem gerado questionamentos.

Um dos maiores complicadores para a implementação do plano de vacinação tem sido a Pfizer, que inicialmente foi contratada para fornecer 70 milhões de doses, número que foi posteriormente ampliado para 100 milhões e, mais tarde, para 200 milhões. No entanto, até agosto, a empresa entregou apenas 12 milhões de doses, o que limita a distribuição das vacinas da Pfizer e pode dificultar o cumprimento do cronograma. Mesmo com a promessa de entrega de 70 milhões de doses até setembro, o país enfrenta desafios na efetivação dessas entregas.

O Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, mencionou em um evento de junho que, com mais de 600 milhões de doses contratadas, o Brasil teria vacinas suficientes para vacinar toda a população até o final de 2021. No entanto, a dúvida permanece: será que o país conseguirá receber e distribuir todas essas doses de forma eficiente? Embora a quantidade de vacinas disponíveis seja impressionante, o planejamento logístico e a infraestrutura para garantir que as doses cheguem aos postos de vacinação são questões que ainda precisam ser resolvidas.

Se por um lado a sobrecarga de vacinas poderia permitir um plano de vacinação mais rápido, por outro, ela apresenta desafios. Em um cenário de excesso de vacinas, a preocupação é com a armazenagem e a validade dos imunizantes, principalmente considerando as especificidades de conservação de algumas vacinas, como a da Pfizer, que exige temperaturas muito baixas.

Além disso, se o Brasil tiver vacinas sobrando, a questão da fabricação local de imunizantes com tecnologia própria, como as desenvolvidas pela Fiocruz e Instituto Butantan, também deve ser considerada. Com vacinas em excesso, o mercado interno poderia ser afetado, especialmente se o país não tiver demanda para todas as doses adquiridas.

Ainda assim, é importante destacar que, mesmo com vacinas disponíveis, a realidade atual no Brasil continua difícil. Com 556.886 mortes registradas até agora e uma média móvel de mortes acima de 900 diárias, o controle da pandemia depende de mais do que apenas a quantidade de vacinas. Fatores como adesão ao esquema vacinal, medidas de restrição eficazes e cumprimento de normas sanitárias são essenciais para realmente conter a disseminação do vírus e suas variantes, como a Delta.

Enquanto o Brasil segue seu processo de vacinação, o país enfrenta ainda desafios significativos para garantir a equidade na distribuição de vacinas entre estados e regiões, além de combater a resistência de parte da população em se vacinar. A eficácia das campanhas de conscientização e a atuação das autoridades de saúde são cruciais para garantir que a vacinação alcance os números necessários para que o Brasil possa, finalmente, superar a crise sanitária.

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