A Pandemia de Negacionismo e as Consequências para a Vacinação no Brasil

No contexto da pandemia de COVID-19, a resistência às vacinas é um reflexo de questões ideológicas, políticas e econômicas que impactam a saúde pública em várias partes do mundo, especialmente no Brasil.

O cenário atual da pandemia de COVID-19 parece confirmar a ironia de que o mundo, ao menos em parte, estava preparado para enfrentar a crise sanitária, mas de maneira perversa. O novo coronavírus encontrou um terreno fértil no ocidente, onde as políticas neoliberais desestruturam o papel do Estado como garantidor do bem-estar social e fazem das grandes corporações e elites econômicas os principais beneficiários. Nesse ambiente, a saúde pública foi colocada em segundo plano e a solidariedade social foi substituída por um individualismo exacerbado, evidenciado pela ideia do “empreendedorismo” de ser “patrão de si mesmo”.

No plano político, a ascensão da extrema-direita, com políticas xenofóbicas e reacionárias, contribuiu para a proliferação de teorias conspiratórias, especialmente nas mídias sociais. Esse fenômeno tem gerado um grande desgaste no debate público, em que a linha entre fato e opinião se tornou turva, alimentando a desinformação. O negacionismo, especialmente no que tange às vacinas, é um reflexo claro dessa distorção da realidade.

Nos Estados Unidos e na Europa, a recusa à vacina se tornou um movimento ideológico significativo. Grupos negacionistas defendem desde a substituição das vacinas por métodos naturais até a teoria de que as vacinas seriam uma ferramenta de controle genético, frequentemente com base em pesquisas duvidosas e dados não confiáveis. Esse movimento já é responsável por uma pandemia paralela, a dos não vacinados, que contribui para a propagação do vírus. Nos Estados Unidos, cerca de 40% dos profissionais de saúde se recusam a se vacinar, o que amplifica a disseminação da doença, visto que essa categoria está em contato constante com pacientes.

O Brasil, por sua vez, enfrenta uma situação ainda mais complexa. A combinação da crise política, com o golpe de 2016 e a ascensão de Bolsonaro, e a crise econômica, com um modelo neoliberal mais agressivo, culmina em um cenário de desmonte do Estado e ataque aos direitos sociais. No que diz respeito à pandemia, o negacionismo foi institucionalizado, com ações claras para atrasar a compra de vacinas e facilitar acordos escusos. Enquanto o país enfrentava essa escassez de vacinas, os brasileiros se viam reféns de uma bolha comunicacional que disseminava informações erradas, inclusive sobre a origem das vacinas, como no caso da CoronaVac, rejeitada por parte da população por ser associada à China.

Apesar dos sete meses de campanha de vacinação, o Brasil ainda apresenta números preocupantes. Com menos de 18% da população totalmente imunizada, a vacinação enfrenta sérios obstáculos, incluindo a escassez de imunizantes e a paralisação temporária da primeira dose em diversas capitais. A estratégia de “vender o almoço para comprar o jantar” se reflete em um método arriscado de garantir a segunda dose sem ter a quantidade necessária para dar início à vacinação de mais pessoas.

Hoje, o Brasil apresenta um quadro em que mais de 45% da população recebeu ao menos uma dose, mas a situação continua crítica. A falta de uma política pública eficiente e a resistência ideológica são fatores determinantes para que o país continue em uma luta desigual contra a pandemia, com a vida de milhões de pessoas em risco. A urgência em mudar a rota da vacinação e combater o negacionismo é mais evidente do que nunca.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.