O Risco da Retomada do Futebol com Público e as Lições Não Aprendidas

O Brasil avança com decisões arriscadas durante a pandemia, negligenciando as experiências internacionais e colocando em risco a saúde pública.

A volta dos jogos de futebol com público nos estádios é mais um passo questionável no manejo da pandemia no Brasil. Argumentar que a Europa já está permitindo tal prática não é justificativa válida, pois, embora os países europeus também tenham cometido erros graves, como falhas nos protocolos iniciais, suas campanhas de vacinação e medidas rigorosas conseguiram controlar melhor a propagação do vírus.

A situação da pandemia na Europa é um reflexo de medidas eficazes, com a média móvel de mortes nos países como Reino Unido, França, Espanha e Itália, muito abaixo da observada no Brasil. No início de julho, esses países estavam com uma média móvel de mortes inferior a 25, enquanto o Brasil ainda enfrentava cerca de 1.400 mortes diárias. O controle da pandemia na Europa foi viabilizado por uma campanha de vacinação intensa, que reduziu drasticamente as mortes, apesar da circulação da variante Delta.

O Brasil, por outro lado, está lidando com uma realidade diferente. A falta de testes em massa e a ausência de um mapeamento genômico adequado dificultam o acompanhamento da evolução das variantes, incluindo a Delta. Esse fator, somado a aglomerações em transporte público, festas clandestinas e outras situações evitáveis, como os jogos de futebol com público nos estádios, põe em risco a saúde pública.

Embora a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tenha elaborado protocolos e o Ministério da Saúde tenha dado aval para a realização dos jogos, a confiança nessas instituições é questionada. A ausência de transparência e a tomada de decisões baseadas em interesses econômicos e políticos comprometem a eficácia das medidas de controle da pandemia.

A situação no Japão, com os Jogos Olímpicos de Tóquio, evidencia as falhas na gestão da pandemia globalmente. A escassez de kits de teste, que impossibilita a testagem diária dos atletas, exemplifica a negligência com a saúde pública. Mais de 100 atletas já foram infectados pelo vírus, o que pode comprometer não apenas o desempenho esportivo, mas também a saúde de milhares de pessoas envolvidas.

O Brasil, com a variante Delta já prevalente e a vacinação avançando lentamente, caminha para um cenário de graves consequências. A média móvel de novos casos atingiu números alarmantes, e o país permanece em uma situação de risco elevado. Com a vacinação ainda abaixo do ideal, a falta de um planejamento estratégico eficaz e a tomada de decisões irresponsáveis, como a liberação de público nos estádios, coloca a população em uma posição vulnerável.

Em relação à vacinação, o Brasil alcançou 44,61% da população com ao menos uma dose e 17,49% imunizada com as duas doses ou dose única. No entanto, essa cobertura ainda é insuficiente para garantir a imunidade coletiva necessária para conter o avanço da pandemia, especialmente considerando a propagação da variante Delta. A vacinação precisa ser acelerada, com mais recursos e foco na conscientização da população sobre a importância da imunização.

A gestão da pandemia no Brasil, ao ignorar as lições aprendidas por outros países, como a importância de uma vacinação rápida e da manutenção de medidas de distanciamento social, está colocando em risco não só a saúde da população, mas também o futuro da economia e da sociedade como um todo.

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