A variante Delta pode trazer uma nova onda da pandemia

Hoje os dados apontam que média móvel de novos casos segue em baixa, dá-se o mesmo com a de mortes, mas ainda em patamar elevado. A média móvel de óbitos está em quase 1,2 mil, o que é superior ao maior índice da primeira onda, registrado há 370 dias. São dois motivos para ficarmos alertas.

O primeiro é a naturalização desses números, pois convivemos a tanto tempo com eles que a tendência é virar rotina, não mais espantar. Um sinal de que isso está ocorrendo é um certo clima de comemoração com a queda dos índices, mesmo sendo uma queda que mantém números muito, muito elevados.

O outro alerta é que a pandemia no Brasil pode estar repetindo um padrão que ocorre em vários países europeus, EUA e outros, que é uma nova onda a partir da expansão da variante Delta.

Reino Unido, França, Espanha, Itália e Alemanha são exemplos de países em que a participação da variante Delta nos novos casos tem aumentado e isso tem representado um aumento substancial da média móvel de casos e aumento mais discreto e não proporcional da média móvel de óbitos.

Reforça-se a cada dia que a Delta é de fato muito mais transmissível e aumenta a suspeita de que as vacinas perdem um pouco da eficácia, ficando mais seguras a partir da segunda dose. Há inclusive a discussão da necessidade de uma dose de reforço.

O fato é que a presença da variante Delta tem provocado incertezas. A França, por exemplo, acaba de decidir pela retomada de medidas restritivas. O Reino Unido mantém o calendário de reabertura ampla, mas esquenta por lá o debate sobre a possível revisão desse processo.

O diferencial dos países europeus citados e dos EUA, é que a expansão da variante Delta coincide com o nível de cobertura vacinal bem superior ao nosso, especialmente no Reino Unido. Isso explicaria o aumento de casos sem que haja aumento proporcional ao número de mortes.

Diversamente do que acontece na Indonésia, país com 270 milhões de habitantes em que a taxa de imunização está em 7% e tem registrado aumento da média móvel de casos e disparando também de mortes, estando hoje com índices bem próximos ao do Brasil.

A Indonésia tem 83% da população ainda não imunizada com duas doses ou vacina de dose única, o Brasil tem 84% nessa condição. Lá a proporção da variante Delta entre os casos registrados nas últimas duas semanas é de 93%. No Brasil, o último dado é de final de junho, e indica 2,2% de prevalência da variante Delta, e a falta de dados atualizados dá conta da nossa pouca testagem e péssima vigilância genômica.

Esse quadro nos colocaria mais para Indonésia, com mais casos e proporcionalmente mais óbitos, do que EUA e Reino Unido, em que a vacinação mitiga o aumento de mortes, mesmo com o crescimento vertiginoso da média móvel de novos casos.

O que conta a história de como lidamos com a pandemia não é muito animador. Geralmente subestimamos os problemas, não observamos o que acontece no mundo e nem mesmo nos países vizinhos.

Foi assim no início da pandemia, também na segunda onda. Nosso padrão é adotar medidas frágeis e no mínimo sinal de melhora, relaxar. Às vezes até sem melhoras, como nos casos em que se decidiu abrir bares, aulas e cultos presenciais considerando apenas o número de UTIs disponíveis, dispersando o aumento da taxa de transmissão, por exemplo.

De verdade, sabemos o que deveria ser feito agora. Testagem, identificação das variantes, medidas coordenadas de isolamento e, urgente, aumentar drasticamente o ritmo de vacinação até níveis seguros de imunidade coletiva.

Ou isso, ou novo ciclo de mortandade sobreposto ao que já estamos vivendo. Hoje completa 191 dias de média móvel de mortes acima de 1 mil.

  • pessoas vacinadas ao menos uma dose: 91,085 milhões (43,01% da pop.)
  • imunizadas: 34,913 milhões (16,49% da pop.), sendo 3,392 milhões com dose única.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.