Proxalutamida: A Nova Controvérsia na Pandemia de COVID-19

Após a polêmica com o tratamento precoce, Bolsonaro ressurge com a proposta de uso de uma medicação experimental, levantando novos questionamentos sobre a relação entre ciência e política durante a pandemia.

Em meio a um cenário de incertezas sobre tratamentos para a COVID-19, o presidente Jair Bolsonaro voltou a ser o centro de uma nova controvérsia. Desta vez, ele mencionou a proxalutamida, um medicamento ainda em fase experimental para tratamento de câncer de próstata, como uma possível solução para a doença causada pelo coronavírus. Embora o medicamento tenha sido desenvolvido para bloquear hormônios masculinos, como a testosterona, o presidente sugeriu que ele poderia ser estudado no Brasil, apesar de não haver comprovação científica de sua eficácia no combate à COVID-19.

A primeira menção à proxalutamida foi feita por Bolsonaro em 17 de março, quando, ao sair de um hospital, ele declarou que a substância era algo que estava sendo monitorado, mas que ainda estava “em estudo”. No entanto, a maneira como a proposta foi veiculada levanta questões, principalmente considerando o histórico recente de propagação de tratamentos não comprovados como a cloroquina e a ivermectina.

O estudo publicado no periódico Frontiers in Medicine, que foi recusado por revistas renomadas como The Lancet e The New England Journal of Medicine, traz dados preliminares que sugerem uma redução drástica na mortalidade e hospitalização de pacientes com COVID-19 que tomaram proxalutamida. De acordo com os resultados apresentados, a mortalidade foi 77% menor e a taxa de hospitalização caiu em 91% entre os homens tratados com o medicamento, em comparação com os que tomaram placebo. Contudo, a divulgação desses dados trouxe à tona uma série de suspeitas, incluindo a ética da pesquisa e a possibilidade de manipulação dos números.

O pesquisador responsável pelo estudo, Flávio Cadegiani, negou as acusações e se posicionou contra a politização do debate, acusando aqueles que criticam a pesquisa de não separarem ciência da política. Vale ressaltar, no entanto, que Cadegiani tem um histórico de defesa do tratamento precoce, um movimento que também gerou controvérsia devido à falta de comprovação de eficácia.

Logo após a declaração do presidente sobre a proxalutamida, a ANVISA autorizou o início de um novo estudo clínico para avaliar os efeitos do medicamento contra a COVID-19. A situação remete a um padrão que já foi observado com outros medicamentos durante a pandemia: um anúncio precoce de apoio a um tratamento experimental seguido da liberação de uma pesquisa, gerando uma sensação de validação da substância, mesmo sem resultados definitivos. Esse ciclo, como já aconteceu com a ivermectina, acaba gerando aumento de demanda e lucro para as farmacêuticas envolvidas, sem que haja um consenso científico sólido sobre a eficácia do produto.

Apesar de não se tratar de um julgamento definitivo sobre a proxalutamida, a situação levanta sérias preocupações sobre os interesses que permeiam as decisões em torno da saúde pública no Brasil. Ao focar em um medicamento ainda em teste, sem a devida transparência e análise rigorosa, o governo contribui para a desinformação e, potencialmente, para o uso de medicamentos que não são eficazes, mas que geram lucro imediato para certos setores.

Por fim, é importante destacar que, enquanto a discussão sobre tratamentos como a proxalutamida ganha destaque, o Brasil continua a enfrentar um cenário alarmante de casos de COVID-19. Dados recentes mostram que a vacinação avança, mas com um percentual ainda insuficiente de pessoas completamente imunizadas. Até o momento, 42,51% da população recebeu ao menos uma dose, mas apenas 16,22% completaram o ciclo de imunização. A corrida para a vacina continua, enquanto o debate sobre tratamentos experimentais segue gerando incertezas e divisões.

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