Nos primeiros meses de vida, o bebê estabelece uma relação de dependência intensa com a figura materna ou com quem exerce essa função. Este vínculo é fundamental para a sobrevivência da criança, que depende da mãe não só para satisfazer suas necessidades físicas, como alimentação e conforto, mas também para garantir seu desenvolvimento emocional e psicológico. Essa interação inicial é a base para a construção da personalidade e da estrutura psíquica da criança.
A teoria psicanalítica de Donald Winnicott, um dos grandes nomes da psicologia infantil, descreve essa fase como uma relação simbiótica ou fusional entre o bebê e a mãe. Nessa fase, a criança ainda não possui um “Eu” estruturado, o que significa que ela não consegue distinguir sua identidade do mundo exterior. O bebê se vê como uma extensão da mãe, o que caracteriza a fusão com ela. Esse estado de dependência é essencial para que o bebê se sinta seguro, protegido e compreendido, já que ainda não tem a capacidade de regular suas próprias emoções e necessidades.
É nesse contexto que o cuidador desempenha um papel fundamental na tradução e decodificação dos sinais que o bebê emite. A mãe, ou quem exerce essa função, deve interpretar os sinais do bebê, como choro ou expressão facial, e fornecer respostas adequadas, ajudando o bebê a entender o que está acontecendo com ele e com o mundo ao seu redor. Esse processo é essencial para o início da formação da identidade e da psique da criança.
A introdução da simbolização e da “lei” é outra função crucial da mãe nesse processo. Através desse cuidado e da presença maternal, a criança começa a perceber que há uma diferença entre “quem eu sou” e “quem o Outro é”, o que é um passo vital para o desenvolvimento do “Eu”. Esse processo permite que a criança se dissocie da mãe e inicie sua jornada rumo à independência emocional e psicológica. A capacidade de simbolizar, ou seja, de representar mentalmente as coisas, e a internalização das normas e limites sociais (a “lei”) são elementos essenciais para o amadurecimento do psiquismo infantil.
Para que esse processo de separação e diferenciação aconteça de maneira saudável, é necessário que a mãe tenha um “Ego forte”, capaz de lidar com a separação e a crescente independência do filho. Esse fortalecimento do Ego materno permite que a mãe suporte a angústia de ver o filho se afastando emocionalmente e psicologicamente, sem se perder na ideia de controle ou possessividade. A mãe deve, portanto, ter a maturidade e a capacidade de permitir que seu filho cresça, se desenvolva e se torne uma pessoa independente, ao mesmo tempo em que mantém o vínculo emocional necessário para o seu bem-estar.
Esse processo de separação e individuação é crucial para o desenvolvimento da criança, pois, ao se distanciar da mãe, ela começa a formar sua identidade própria, se reconhecendo como um ser distinto e autônomo. O papel da mãe é fundamental não apenas como cuidadora física, mas também como facilitadora desse processo de crescimento e transformação emocional, possibilitando à criança a construção de uma base emocional segura e sólida, que servirá de alicerce para o desenvolvimento de sua personalidade e capacidade de lidar com os desafios da vida.