Com a transição para o ambiente digital, os espaços de encontro físicos deram lugar a aplicativos e redes sociais, mas com isso, surgiram novos desafios, principalmente no que diz respeito à aceitação e à pressão por padrões estéticos.
A internet tem desempenhado um papel crucial na reconfiguração das formas de interação dentro da comunidade gay. Com o crescimento de aplicativos de encontros, muitos homens gays passaram a procurar parceiros de maneira mais rápida e prática, mas também mais superficial. A busca por atributos como juventude, altura, cor da pele e masculinidade se tornou uma constante, muitas vezes desconsiderando a diversidade que caracteriza a comunidade. Pesquisas apontam que até 90% dos usuários desses aplicativos têm preferências por homens que atendam a características específicas, como serem jovens, altos, brancos e másculos, uma realidade que exclui grande parte da população.
Esse processo de seleção estética começa logo com o pedido de fotos, onde uma série de exigências são feitas sem qualquer interação real, com um foco intenso na aparência. O resultado é uma experiência de exclusão que afeta a autoestima de quem não se encaixa nesses padrões, criando um ambiente propício para o sofrimento emocional. A falta de espaço para pessoas que fogem do estereótipo, como gordos, afeminados ou baixos, torna ainda mais difícil a construção de uma identidade dentro da comunidade. A ideia de conexão que deveria ser inclusiva, muitas vezes acaba se tornando um reforço das normas externas que perpetuam a sensação de inadequação.
Esse estresse é ainda mais acentuado pela interseção do racismo, que afeta particularmente homens gays negros. Para esses indivíduos, a experiência nos aplicativos muitas vezes é marcada por duas formas de rejeição: a de serem completamente ignorados ou, por outro lado, fetichizados de maneira objetificada. Esse racismo estrutural, aliado à pressão por padrões estéticos, cria uma camada adicional de sofrimento que dificulta a construção de relações genuínas e saudáveis.
O ciclo de rejeição e exigências estéticas não se limita aos encontros virtuais, mas começa na infância, onde a autoestima dos meninos gays muitas vezes está atrelada às expectativas do mundo externo. Seja sendo um excelente aluno, praticando esportes ou atendendo outras normas de comportamento social, essa pressão por atender expectativas externas é internalizada desde cedo. Quando chega à vida adulta, essa internalização se traduz nas rígidas normas da comunidade gay, que cobra homens que atendam a padrões específicos de aparência, masculinidade e desempenho sexual.
Por mais que algumas dessas expectativas possam ser alcançadas temporariamente, a exaustão causada por uma vida inteira vivida pelo olhar do outro leva, muitas vezes, a uma crise existencial. A pergunta “Isso é tudo que existe?” pode surgir, resultando em sentimentos profundos de vazio e, em muitos casos, levando à depressão. A pressão constante para se encaixar em um molde que não reflete a verdadeira diversidade da experiência humana dentro da comunidade gay revela a necessidade urgente de uma mudança de perspectiva, onde o valor pessoal e a aceitação não dependam da conformidade com padrões impostos.
Esse ciclo de pressão e rejeição não só enfraquece a saúde mental dos indivíduos, mas também dificulta a construção de relações autênticas e satisfatórias. O que é necessário é um ambiente mais inclusivo, onde a diversidade seja valorizada e respeitada, permitindo que todos, independentemente de suas características físicas ou identitárias, possam se sentir aceitos e livres para ser quem realmente são.