São Paulo é um mal exemplo no combate à pandemia

São Paulo registrou hoje o total de 129.453 óbitos por Covid-19 e a taxa de mortalidade de 280/100K (280 por 100 mil), bem acima da taxa nacional que é de 247/110K. se fosse um país, o estado estaria em 7º lugar entre os maiores óbitos totais entre os 5 piores índices de mortalidade proporcionalmente à população.

No entanto São Paulo é o estado mais rico, com maior infraestrutura, com o maior complexo hospitalar e de serviços de saúde do Brasil, também tem os principais hospitais e centros de referência do país e o HC, Incor e Instituto Emílio Ribas são notáveis exemplos, além do Butantan que fabrica a vacina CoronaVac.

Essas características poderiam ter ajudado São Paulo a obter melhores resultados, mas não ocorreu. Já escrevi muito sobre o tema, e não quero me repetir, mas o governo estadual imprimiu uma dinâmica negacionista sem a retórica mais bruta do negacionismo bolsonarista.

Pressa em promover abertura de aulas presenciais, lentidão em tomar medidas mais duras de isolamento, lockdown sempre anunciado e nunca decretado, ausência de campanhas de massa para mobilizar a população, fiscalização precária do uso de máscara, ênfase no modelo hospitalocêntrico com os polêmicos hospitais de campanha em vez de fortalecer a rede já instalada e o não uso da atenção básica, entre outras características, são marcas do modo tucano de engambelar.

De certo modo, a vacina ficou como sendo o único (sem tirar o mérito) diferencial, mas que, ao menos para mim, não compensa o conjunto de ações de inspiração negacionista. Porque não se trata de compensar, mas de se implantar um conjunto de ações coordenadas e coerentes, com isolamento social de leve à severo, máscara, testagem e identificação de infectados e rede de contatos e por fim, quando estiver disponível a vacina, imunização em massa. Não dá para ser meio antinegacionista. É coerência sistêmica.

Outra dado interessante de São Paulo é o número de pessoas que tem planos privados de saúde. São mais de 18 milhões nas diversas modalidades, com mais de 42% de cobertura da população. É uma discussão complexa, mas entendo que esse alto índice de paulistas com planos de saúde mais atrapalhou do que ajudou no combate à pandemia.

De modo mais amplo e conceitual, os planos tendem a atuar de modo a fragmentar as ações de saúde e não trabalham na lógica da saúde coletiva, da promoção de saúde. A possível oferta de leitos e pronto atendimento poderia ter atuado como desafogador da rede pública, mas neste ano, nos momentos de maior ocupação, foram os hospitais privados que recorreram à rede pública para desafogá-los. Mais uma vez o recurso público financiando o setor lucrativo, até na saúde.

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