Sindicato da militância

Marília Moschkovich, doutora e socióloga, dissertou certa vez sobre a exclusão promovida por aquele tipo de militância que tudo rotula e só agrega seus iguais. Ela disse:

“O fim último de todo movimento contra opressões é que, como resultado de seu próprio trabalho, ele deixe de ser necessário. Que ele deixe de ser necessário precisa ser um objetivo geral, que valha para absolutamente todas as pessoas envolvidas nesses sistemas de opressão. Não dá pra pensar um feminismo que quer incluir apenas as feministas no processo e no resultado da luta. Não dá, gente. Não dá. Ou o feminismo será para todas e todos, ou não será.”

Eu, particularmente, fico perplexo com a panela onde se agrupam alguns militantes que se acham empoderados para tudo classificar a seu gosto, segundo sua régua e sua ciência, no reino da problematização. Em Minas Gerais, tivemos uma mulher trans, branca, loira, que ocupou um cargo de liderança em um governo estadual do PSDB, e enquanto esteve nele, implantou políticas importantíssimas para as travestis, em especial no sistema prisional. Imagino esse nicho de militância, lá no dia da nomeação, apedrejando esta mulher como “não representativa” do segmento no qual se insere até hoje.

Essa militância fundamentalista criou um código do que pode ou não pode existir. Um processo seletivo do que é ou não correto na militância. Amputa a perna logo na primeira ferida. Com isso, viraram um movimento de exclusão ao invés de inclusão. Uma seita.

Podem espernear, xingar, esbravejar até quando quiserem. Não me importa. Eu entendo os seres humanos como mutantes. E, como na seleção natural, darei terreno a todas as mutações favoráveis.

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