O machismo, embora amplamente discutido e combatido, encontra um campo fértil na comunidade homossexual, onde a busca por padrões de masculinidade se torna uma forma de garantir aceitação e respeito, tanto dentro como fora dessa comunidade.
“Vamos parar de pensar que somos menos homens diante dos outros porque somos homossexuais ou que não podemos expressar nossa homossexualidade da maneira que queremos, por que eles dirão…”
Hoje, o machismo está presente de maneira crescente dentro da comunidade homossexual, mesmo que muitos não o reconheçam como tal. Em um mundo onde a masculinidade tornou-se, para alguns, sinônimo de poder e respeito, muitos gays se veem forçados a adotar atitudes estereotipadas, próximas da heteronormatividade, para garantir sua aceitação, principalmente dentro de sua própria comunidade.
Historicamente, a sociedade tem imposto um padrão de masculinidade rígido, e este conceito foi internalizado por muitos membros da comunidade LGBTQ+. Para algumas pessoas, exibir altos padrões de virilidade parece ser uma forma de garantir que não sejam rejeitados, ou pior, considerados “fracos” ou “afeminados”. Dentro dessa lógica, a homofobia internalizada se manifesta, criando uma hierarquia entre gays que se distanciam da ideia de um comportamento mais “feminino” ou “afeminado”.
Embora todos os tipos de homossexuais sejam válidos e mereçam respeito, a realidade é que, para muitos gays, a masculinidade tornou-se uma moeda de valor dentro do próprio universo LGBTQ+. Muitos se esforçam para ser “mais viris” ou “mais masculinos”, acreditando que dessa forma são mais respeitados, tanto pelos heterossexuais quanto pelos próprios membros de sua comunidade. Isso se reflete em comportamentos e atitudes que reforçam estereótipos e perpetuam a ideia de que é necessário ser “ativo”, no sentido sexual, para ser considerado digno de respeito.
Infelizmente, essa pressão de se encaixar em padrões de masculinidade ainda é um reflexo da constante busca por aceitação, seja no seio familiar, seja na sociedade como um todo. Em um cenário onde ainda enfrentamos estigmas, como homossexuais, muitos tentam se distanciar da vulnerabilidade e da exposição, ao adotar uma fachada de virilidade. Para esses indivíduos, parece que a aceitação se baseia em se afastar daquilo que a sociedade diz ser “fraqueza” ou “feminilidade”. No entanto, ao fazê-lo, acabam criando uma barreira que limita a diversidade de expressão dentro da própria comunidade LGBTQ+.
O machismo gay é, portanto, um reflexo de um sistema de crenças que continua a promover a ideia de que há uma única forma de ser homem ou gay, desconsiderando as múltiplas possibilidades de expressão que existem. Essa cultura de competição pela “virilidade” não só afasta os gays que não se encaixam nesse padrão, mas também contribui para o preconceito e discriminação dentro da própria comunidade.
O mais triste é que essa mentalidade se perpetua, fazendo com que muitos gays, ao se verem como inferiores ou inadequados por não atenderem aos estereótipos de masculinidade, acreditem que ser gay não é suficiente. Eles buscam, em suas relações com outros homens, a validação que provém de sua capacidade de exibir características de masculinidade tradicional, algo que, no fim, os impede de se expressar autenticamente.
A verdadeira mudança começa com a aceitação de que a masculinidade, como qualquer outra característica, não deve ser definida por padrões rígidos e impostos. Homens gays devem ser livres para explorar sua identidade sem medo de serem julgados, seja por seu comportamento, seja por sua aparência. A luta pela aceitação da diversidade dentro da comunidade LGBTQ+ precisa ser fortalecida para que todos, independentemente de como se expressam ou de sua posição sexual, possam viver sem o peso do machismo, com mais liberdade e respeito.
“Não queremos ser algo que não somos e não desprezamos ou discriminamos outras formas de expressar a homossexualidade”.
Reflexão sobre a Identidade e Masculinidade na Comunidade LGBTQ+
Em um mundo que constantemente tenta nos encaixar em moldes rígidos, é hora de parar de tentar provar algo sobre nossa masculinidade ou identidade. Ser homossexual é, acima de tudo, uma expressão de liberdade e autenticidade.
Se pudesse pedir algo, seria que, como homossexuais, desistíssemos da obsessão pela masculinidade e virilidade. Ao invés de seguir caminhos de afirmação que envolvem a adoção de papéis impostos pela heteronormatividade, que, por sua vez, traz em si um legado de limitações e estigmas, deveríamos parar de nos submeter à pressão de ser algo que não somos, simplesmente para agradar ou nos destacar diante dos outros.
A masculinidade, como concebida pelo modelo heteronormativo, não deve ser uma medida para o que significa ser “homem” ou “gay”. Não precisamos mais nos convencer de que nossa homossexualidade diminui nossa capacidade de ser homens. A ideia de que ser gay nos torna menos homens ou menos respeitáveis é uma falácia que precisa ser rejeitada. Não importa como nos expressamos: seja de maneira efeminada, delicada, masculina, passiva ou ativa, a verdadeira questão é a aceitação de nós mesmos, sem medo do julgamento alheio.
O que precisamos entender é que a busca por validação por meio de estereótipos e modelos de masculinidade não faz sentido. Nossa segurança em nossa identidade e preferências não depende do que os outros pensam. Continuamos a perpetuar um ciclo de insegurança quando fazemos da nossa identidade uma plataforma de comparação. Aquilo que realmente precisamos demonstrar é o contrário: que somos suficientes exatamente como somos, sem a necessidade de provar nada a ninguém.
A homossexualidade não deve ser limitada a um conjunto de regras ou padrões. Devemos abandonar a ideia de que, para sermos respeitados ou dignos de aceitação, devemos seguir um padrão pré-estabelecido de masculinidade. O mundo já nos desafia o suficiente em nossa diferenciação, e não devemos tornar isso ainda mais pesado ao tentar moldar nossa identidade em algo que não ressoa com quem somos.
Ao entender que as formas de nos relacionarmos, de expressarmos nosso amor e desejo, podem ser diferentes das experiências heterossexuais, devemos abraçar essas diferenças, não como algo a ser corrigido, mas como algo belo e válido. O essencial é que sejamos fiéis a nós mesmos, sem impor ou aceitar discriminação por expressões de gênero ou orientações sexuais que não se alinhem ao padrão tradicional. O que sempre defendemos, e o que precisamos reforçar, é que a luta pela aceitação e respeito da diversidade, dentro e fora da comunidade LGBTQ+, é uma questão de humanidade. Podemos, sim, ser um grande exemplo de humanidade para uma sociedade que ainda está aprendendo a acolher a diversidade em sua forma mais genuína.