Após mais de dois anos de pandemia, o Brasil se encontra em uma situação de grande perda e desafios no controle da Covid-19, com números que refletem um ciclo de falhas e subestimativas por parte de governantes e da sociedade.
Entre o início da pandemia e a menor média móvel de mortes em 11 de novembro, um período de 240 dias, o Brasil enfrentou o que muitos chamam de “primeira onda” da Covid-19. Durante esse tempo, o país registrou 163.430 mortes. No entanto, o quadro atual é alarmante. Desde então, em um intervalo de 230 dias, o total de óbitos dobrou, alcançando 352.681 mortes, um número que mais que duplicou em relação ao primeiro período.
Esse aumento, que marca um contraste com o que ocorreu em países como os Estados Unidos e a Europa, é resultado da falta de uma coordenação eficiente nas medidas de contenção da doença no Brasil. Embora o país tenha experimentado uma subida dos números inicialmente mais moderada, o fato é que o Brasil não reduziu drasticamente os casos como outras nações. Em vez disso, houve um prolongamento do platô, uma situação estável que não resultou na diminuição aguda de mortes e contágios. Este prolongamento de uma situação de crise é um reflexo direto das medidas inconsistentes adotadas, como a falta de um lockdown efetivo e as políticas de isolamento social descoordenadas.
As discussões internas sobre o combate à pandemia frequentemente estavam centradas em abordagens erradas, como o tratamento precoce com medicamentos como a cloroquina, uma estratégia que se provou ineficaz e que resultou em desperdício de recursos e vidas. Enquanto outras nações estavam implementando políticas de rastreamento de contatos, testagem em massa, e distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), o Brasil foi negligente nessas áreas. O apoio à imunização também foi falho, com o início da vacinação em janeiro de 2021, de forma muito lenta, e com um percentual de apenas 12,3% da população imunizada até hoje.
A comparação com outros países, que realizaram campanhas de vacinação mais eficazes e tomaram medidas mais ágeis, ressalta a ineficiência do Brasil na gestão da pandemia. Em muitos países, a combinação de isolamento social rigoroso, apoio econômico à população e ao setor empresarial, e campanhas educativas de saúde pública resultaram em melhores resultados na luta contra a Covid-19. No Brasil, por outro lado, a falta de medidas preventivas adequadas resultou em um impacto devastador na saúde pública.
Atualmente, o país conta com um número crescente de mortes, com 1.917 óbitos registrados em um único dia e um total acumulado de 516.119 mortes. Além disso, o Brasil segue com mais de 18,5 milhões de casos confirmados, e uma média móvel de novos casos que permanece alarmante. A vacinação, apesar dos esforços, está aquém do necessário, com apenas 34,25% da população recebendo ao menos uma dose da vacina até agora.
Essa falha de gestão no Brasil, somada ao negacionismo e à falta de planejamento adequado, teve consequências fatais para milhões de brasileiros. O país não só perdeu tempo precioso durante a pandemia, mas também inúmeras vidas. Além disso, o país agora enfrenta as consequências a longo prazo, com milhões de pessoas vivendo com sequelas graves da doença, enquanto as disputas políticas e ideológicas continuam a prejudicar os esforços para garantir a saúde pública.
Em termos globais, o Brasil ocupa o segundo lugar em número de mortes, com 515,2 mil óbitos, atrás apenas dos Estados Unidos, que registram 619,8 mil. As estatísticas revelam um cenário devastador que poderia ter sido amenizado com uma resposta mais eficiente e coordenada. A situação continua a exigir reflexão sobre as falhas cometidas e sobre como o país pode, ainda, reagir para enfrentar os desafios que a pandemia impôs à sociedade.