Em um momento de intensificação das tensões políticas no Brasil, o ataque do presidente à imprensa tem gerado um ambiente de polarização ainda mais acentuado, com críticas àqueles que denunciam irregularidades e expõem práticas de corrupção.
Recentemente, o presidente do Brasil fez declarações agressivas contra veículos de imprensa como a Rede Globo e a CNN, acusando-os de “destroem a família brasileira” e “destroem a religião brasileira”. A reação agressiva do presidente reflete uma crescente animosidade contra a mídia, um dos pilares do Estado Democrático de Direito, como garantido pela Constituição Federal de 1988.
O jornalismo, especialmente aquele praticado por emissoras de grande alcance, tem sido visto por muitos como um agente de fiscalização do poder público, especialmente quando se trata de escândalos de corrupção e abusos de poder. As palavras do presidente, portanto, ecoam um ataque não apenas à mídia, mas também ao princípio fundamental de liberdade de expressão, consagrado na Constituição. Em sua declaração, ele sugere que veículos de imprensa como a Globo e a CNN são responsáveis por desestruturar aspectos da sociedade brasileira, como a família e a religião.
É importante refletir, no entanto, sobre o que é destruído nesse processo. O termo “família brasileira” evoca um modelo tradicional e muitas vezes conservador de unidade familiar, que muitos consideram ser marcado por estruturas rígidas e práticas repressoras. Da mesma forma, ao se referir à religião, o ataque parece mais direcionado às lideranças religiosas que, em sua visão, teriam se desvirtuado em uma prática mercenária, focada no poder e nos interesses financeiros.
Na contramão dessa retórica, o Brasil tem assistido a uma série de investigações jornalísticas que expõem práticas de corrupção envolvendo figuras públicas, o que torna ainda mais claro o papel crucial da imprensa na manutenção da transparência e da justiça. A chamada “família miliciana” da Barra da Tijuca, envolvida em escândalos de corrupção e desvio de recursos, é um exemplo emblemático dessa dinâmica, onde interesses pessoais e políticos se entrelaçam para enfraquecer as instituições e os valores republicanos.
A reação a essas denúncias e a resistência em aceitar a exposição de práticas ilícitas por parte de autoridades e figuras públicas são compreensíveis, mas não justificáveis em um contexto democrático. Quando a imprensa exerce sua função de fiscalizar o poder, denuncia as falcatruas e busca assegurar que a verdade chegue ao público, está cumprindo seu papel fundamental, independentemente das críticas que possa receber. A acusação de “canalhice” lançada contra a mídia é, portanto, um reflexo de uma tentativa de silenciamento da oposição e uma forma de deslegitimar a busca pela verdade.
É vital que a sociedade brasileira continue a defender a liberdade de imprensa e os direitos fundamentais que garantem o funcionamento de uma democracia saudável. O ataque sistemático a esses pilares é um alerta para todos aqueles que acreditam na importância de um país livre, justo e transparente.