A tragédia anunciada: meio milhão de mortes e a banalização do negacionismo

A pandemia no Brasil ultrapassa marcos dantescos enquanto discursos anticientíficos continuam a ganhar espaço.

O Brasil está à beira de atingir uma marca impensável: 500 mil mortes pela Covid-19. Apenas na última semana, meio milhão de novos casos foram registrados, o que, considerando a taxa de mortalidade da doença em 2,8%, representa 14 mil novas vidas estatisticamente condenadas. Mais alarmante ainda é o número de casos ativos, atualmente em 1,5 milhão, alimentando a escalada de óbitos diários, que hoje somam 2.449, elevando a média móvel para 2.039.

Esse panorama pavoroso é agravado por uma postura que transcende a simples omissão. A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia, hoje palco de discursos negacionistas revestidos de sofisticação retórica, testemunhou médicos defendendo narrativas que subvertem a ciência. Ao criticar a politização da saúde, esses depoentes tentaram legitimar visões antagônicas como se fossem estratégias equivalentes, ocultando os riscos letais do negacionismo.

Entre as falas, destacou-se a tentativa de desqualificar a centralidade da vacinação, um dos pilares no combate à pandemia, que deve ser complementada pelo uso de máscaras e isolamento social, e jamais por tratamentos alternativos desprovidos de comprovação científica. A estratégia é clara: criar um falso equilíbrio entre ciência e negacionismo, como se ambas as abordagens fossem válidas no enfrentamento de uma crise sanitária sem precedentes.

Enquanto isso, o cenário global também não oferece alívio. Com mais de 3,8 milhões de mortes e 178,6 milhões de casos, a pandemia continua a devastar países, mas o Brasil ocupa um lugar de destaque trágico: o segundo em número total de óbitos, superado apenas pelos Estados Unidos. A lentidão da vacinação é um dos grandes entraves, com apenas 29,21% da população brasileira vacinada com a primeira dose e 11,42% totalmente imunizada.

Apesar do luto e da indignação, amanhã será mais um dia de luta para muitos brasileiros. As ruas receberão manifestantes dispostos a transformar sua revolta em força para exigir mudanças. A crise sanitária é também uma crise de governança e humanidade, que exige a mobilização coletiva para que a história registre não apenas a tragédia, mas também a resistência de um povo em busca de justiça.

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