A desconexão com o ser e a terra como reflexo do modo de vida urbano e capitalista.
Em um mundo marcado pela velocidade e pela fluidez que nos desumaniza, resta questionar quantos de nós, sobretudo nas cidades do sul, imersos no ritmo frenético e impessoal do capitalismo, ainda somos capazes de ouvir vozes como a de Marina Silva. Sua narrativa carrega o peso de uma tradição genuína, que não se perde nas engrenagens do consumo e do individualismo, mas busca raízes profundas na relação com o tempo, o espaço e a Terra.
Essa desconexão, que transcende ideologias, atinge até mesmo aqueles que se posicionam contra o sistema capitalista. Não é raro encontrar, entre os que se identificam como progressistas ou anticapitalistas, uma incapacidade de respeitar ou compreender saberes que fogem à lógica ocidental urbana. Esses saberes, frequentemente vistos como exóticos ou ultrapassados, carregam em si o potencial de nos reconectar com aspectos fundamentais de nossa humanidade, abafados pelos tons de cinza que dominam a paisagem contemporânea.
Espiritualidade, em sua essência, não é algo cultivado nos templos do dinheiro ou nas vitrines do consumo. Qualidade de vida não se mede por padrões que negam o ser em nome do ter. A saúde, seja física, mental ou espiritual, não floresce em um ambiente onde tudo é descartável e nada se cria. Nossa existência, moldada por esse “não-lugar” e pela ansiedade do “sem-tempo”, reflete uma profunda alienação de nós mesmos e do mundo ao nosso redor.
A relação com a Terra — nosso habitat natural — espelha diretamente nossa ética e nossa capacidade de habitar. Habitar, nesse contexto, não se refere apenas a ocupar um espaço físico, mas a tornar esse espaço uma morada para o ser, um lugar onde a vida possa florescer em harmonia com o entorno. A ética, portanto, é o compromisso de tornar habitável não apenas o ambiente, mas também a nossa própria existência ao longo do tempo.
Relatos como os de Marina Silva carregam uma sabedoria que transcende a lógica imediatista e utilitarista. São lembretes de que é possível olhar para o mundo com outros olhos, onde o fardo da tradição se transforma em virtude e onde o sentido de habitar adquire uma profundidade que vai além das métricas do mercado. Ao ignorar essas vozes, perdemos a chance de reencontrar o que nos torna verdadeiramente humanos: a capacidade de criar, cuidar e pertencer.