A oscilação no número de mortes e a presença de variantes ameaçam o controle da crise sanitária.
Após um pico histórico de mais de 3 mil mortes diárias em abril, a média móvel de óbitos no Brasil apresentou queda até atingir 1,6 mil mortes há cerca de dez dias. No entanto, o cenário voltou a se agravar, com a média móvel estabilizando-se em 1,9 mil nos últimos cinco dias. Especialistas divergem entre a possibilidade de um novo pico ou uma estabilização em patamar elevado, mas ambos os cenários são alarmantes.
Diversos fatores contribuem para essa situação. Estudo recente da Fiocruz aponta uma alta taxa de transmissão em quase todos os estados, enquanto a média móvel de novos casos atinge os maiores níveis desde o início de abril. A vacinação tem reduzido as mortes entre idosos, mas internações e óbitos entre jovens estão aumentando, interrompendo a tendência de queda nas estatísticas gerais.
Além disso, a ocupação de leitos Covid e UTIs permanece elevada, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. Com apenas 11,3% da população totalmente imunizada após 150 dias de campanha, o Brasil enfrenta uma vacinação lenta e desigual. Esse contexto é agravado pela ausência de uma vigilância genômica eficaz, o que dificulta a identificação e monitoramento de variantes como a Delta, já identificada no país e potencialmente mais transmissível.
Apesar da gravidade, medidas restritivas permanecem brandas. Mesmo com a média móvel de mortes atual sendo quase o dobro do pico da primeira onda, governadores e prefeitos têm demonstrado hesitação em endurecer as restrições, em parte devido à pressão do discurso negacionista promovido pelo presidente Jair Bolsonaro.
Outro ponto controverso é a realização da Copa América no Brasil. O torneio já registrou 53 casos de Covid-19 entre jogadores e trabalhadores, o que evidencia os riscos desnecessários associados ao evento. A falta de protocolos rigorosos para quarentena e testagem das pessoas envolvidas aumenta a probabilidade de propagação de variantes e novos surtos.
Os números refletem a gravidade do cenário. O Brasil registra 491.164 mortes acumuladas, com média móvel de 1.980 óbitos diários. Os casos confirmados ultrapassam 17,5 milhões, e a taxa de imunização completa atinge apenas uma pequena fração da população.
Enquanto o Reino Unido adia a flexibilização de restrições para conter a variante Delta, o Brasil continua a enfrentar a pandemia de forma fragmentada, sem um planejamento coeso que alie vacinação em massa, medidas restritivas eficazes e monitoramento científico das variantes. Nesse ritmo, o país permanece vulnerável a novos agravamentos, colocando vidas em risco e retardando uma recuperação segura.