Bolsonarismo e o Paradoxo do Apoio ao Opressor

Apoiar quem oprime revela um enigma político e social que mistura emoções, interesses e autoengano.

O bolsonarismo, para muitos, parece ser apenas uma combinação de ignorância e raiva reprimida. Contudo, uma análise mais profunda revela camadas mais complexas, como o masoquismo social e a síndrome de Estocolmo, que ajudam a explicar o apoio de grupos historicamente oprimidos a políticas e líderes que os desfavorecem.

É desafiador compreender, por exemplo, como mulheres podem votar em um político que as desvaloriza publicamente, defendendo salários menores pelo simples fato de engravidarem, ou justificando absurdamente um estupro com base na beleza da vítima. A retórica misógina, ao invés de afastá-las, encontra eco em uma parcela que parece internalizar a desvalorização como algo aceitável ou até inevitável.

Da mesma forma, é intrigante que pessoas em situação de vulnerabilidade econômica apoiem líderes que promovem o desmonte de direitos trabalhistas, reduzem o poder de compra e concentram ainda mais riqueza nas mãos da elite. É como se a promessa de uma economia liberal, ainda que desfavorável à maioria, fosse vista como a única saída, alimentada por narrativas que demonizam as alternativas e culpabilizam os próprios pobres por sua condição.

No caso da população LGBTQ+, o apoio a um político homofóbico que defende castigos físicos na infância como “cura” e tenta minar direitos civis arduamente conquistados beira o incompreensível. Aqui, o paradoxo se intensifica, revelando como o medo, a negação ou mesmo a busca por aceitação social podem levar pessoas a apoiarem quem ameaça diretamente sua existência.

Essa dinâmica reflete um fenômeno mais amplo, onde o oprimido, em vez de resistir, alinha-se ao opressor. A síndrome de Estocolmo, em que a vítima desenvolve empatia por seu algoz, ajuda a lançar luz sobre essas escolhas, frequentemente moldadas por manipulação emocional, narrativas polarizadoras e a promessa ilusória de pertencimento.

Porém, o impacto dessas decisões vai além do individual. Ao empoderar líderes que perpetuam desigualdades e retrocessos, essas escolhas contribuem para aprofundar divisões sociais e fragilizar a democracia. Ainda que representem uma minoria dentro dos grupos que compõem a base de apoio, os danos causados por essa aliança com o opressor reverberam por gerações.

Talvez o despertar venha com o tempo, à medida que os efeitos dessas escolhas se tornem impossíveis de ignorar. Contudo, enquanto isso não acontece, cabe à sociedade como um todo questionar, educar e oferecer caminhos alternativos para romper o ciclo de opressão autoimposta. Afinal, reconhecer o erro é o primeiro passo para a transformação.

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