Reflexões sobre as percepções e as contradições na construção de nossas relações.

Existem expressões que carregam em si um peso imenso de conotações e julgamentos, como as de ser “de bem” ou “do bem”. Embora a princípio pareçam ter significados próximos, quem se debruça sobre essa diferença logo percebe que há um abismo entre esses dois conceitos. Em muitas situações, essa diferença se revela como um reflexo de posturas que se opõem: enquanto “de bem” remete a uma ideia de moralidade, respeito social e uma imagem de quem está em conformidade com as normas, “do bem” reflete, de fato, uma conduta mais profunda e autêntica, voltada para a empatia, a tolerância e a genuína bondade.
Aqueles que se auto-intitulam “de bem” muitas vezes acabam sendo os mais distantes daquilo que realmente é ser “do bem”. Em muitos casos, a expressão “de bem” é usada por pessoas que se consideram moralmente superiores, que buscam sempre julgar e categorizar os outros, frequentemente de maneira intolerante. Elas se baseiam em padrões rígidos de comportamento e conduta, sem considerar a complexidade das pessoas ao seu redor. Quem se define como “do bem”, por outro lado, tende a ser mais aberto ao diferente, mais capaz de enxergar além das aparências e mais disposto a acolher sem julgamentos.
Acontece que muitas vezes, são justamente essas pessoas “de bem” que se mostram mais intolerantes, invejosas e distantes da verdadeira solidariedade. Elas se apegam à sua fachada de moralidade, mas, na prática, falham em compreender as nuances da vida e das relações humanas, se tornando, na realidade, mais afastadas do bem que pretendem pregar. Isso pode ser visto em diversas situações sociais, especialmente quando se trata de questões de identidade, como o respeito à comunidade LGBT.
O verdadeiro “bem” não se baseia na aparência ou em uma moralidade imposta, mas na aceitação genuína do outro, na disposição de ouvir, de compreender, de permitir que o outro seja quem é, sem medo de julgamentos. É, por isso, que muitas pessoas que, à primeira vista, podem ser consideradas “esquisitas” ou “fora do padrão” acabam sendo as mais solidárias, confiáveis e abertas, enquanto as que se veem como exemplares de virtude frequentemente demonstram uma face de exclusão e arrogância.
Em um mundo onde o rótulo de “de bem” muitas vezes esconde uma realidade de intolerância e superficialidade, talvez o verdadeiro lema a seguir seja: “não seja de bem, se do bem”. Ser “do bem” exige mais do que um simples alinhamento com normas sociais ou políticas; exige autenticidade, aceitação e uma dedicação sincera ao outro. E é nesse espaço de honestidade e respeito mútuo que encontramos as relações mais saudáveis e, de fato, positivas.