Após a leveza inicial, o estado enfrenta um aumento dramático no número de mortes e casos, e as medidas restritivas surgem como resposta.
Minas Gerais, que em janeiro de 2021 ostentava a menor taxa de mortalidade por Covid-19 do Brasil, viu essa posição mudar drasticamente com a chegada da segunda onda da pandemia. Em janeiro, o estado registrava 64,8 mortes por 100 mil habitantes, com o Maranhão logo atrás. Hoje, Minas ocupa o 11º lugar no ranking nacional, com 196 mortes a cada 100 mil habitantes, enquanto o Maranhão, que antes tinha números piores, agora lidera o índice de menor mortalidade com 116 mortes a cada 100 mil habitantes. O total de óbitos no estado ultrapassou 41,4 mil, e os dados indicam uma situação preocupante: a média móvel de óbitos está se aproximando de 200 por dia e o número de novos casos está crescendo há 30 dias consecutivos.
Diante do agravamento do cenário, o governo mineiro adotou medidas mais rigorosas para conter a disseminação do vírus, endurecendo a chamada Onda Vermelha, a fase mais restritiva dos protocolos de controle. As novas normas incluem a restrição do funcionamento de bares e o fechamento de academias, clubes e salões de beleza. Para bares e restaurantes, o consumo in loco é permitido até às 19h, e após esse horário, só é possível realizar pedidos para entrega em domicílio. Essas ações foram tomadas com base nas orientações do Comitê Extraordinário instituído para lidar com a crise sanitária.
Embora a decisão de Minas de endurecer as medidas pareça estar no caminho certo, com a intensificação dos controles, fica a pergunta sobre se o estado chegou tarde demais. Em retrospectiva, Minas foi um dos estados que mais demorou para responder adequadamente à pandemia. Durante 11 meses, teve a evolução mais lenta no combate ao vírus. Se tivesse adotado ações mais rápidas e mais coordenadas, poderia ter evitado muitos dos problemas enfrentados agora. A situação evidencia a falta de um comitê extraordinário de resposta à pandemia que tivesse coordenado ações de contenção de forma eficaz, replicando experiências de sucesso de cidades que conseguiram manter a Covid-19 fora de suas fronteiras, como Cedro do Abaeté e Bonito de Minas.
O que se percebe é que a falta de uma coordenação estadual e nacional eficiente resultou em decisões tardias e desorganizadas. Em vez de criar um “cinturão” de municípios livres do vírus, que poderia ser sustentado tanto técnica quanto economicamente, o Brasil optou por uma abordagem fragmentada. O Ministério da Saúde, em vez de coordenar essas ações de forma eficaz, se envolveu em um cenário de negação e atraso, como apontado pelos depoimentos da CPI da Pandemia. O governo federal, sob a liderança de figuras como Osmar Terra, foi criticado por retardar a aquisição de vacinas e disseminar o uso de medicamentos ineficazes como a cloroquina, uma abordagem que muitos consideram criminosa diante da gravidade da situação.
Em um contexto em que o Brasil segue com altos índices de infecção e mortes, a situação de Minas Gerais é um reflexo de uma resposta desorganizada à pandemia, que demorou a adotar medidas efetivas para proteger a população. Embora as ações restritivas atuais sejam um passo na direção certa, a realidade é que, com o número de mortes e casos crescendo, a chance de evitar mais tragédias parece estar diminuindo. A história de Minas Gerais, e do Brasil como um todo, serve de alerta para a necessidade de uma ação coordenada e urgente para enfrentar as ondas futuras da pandemia, sem mais erros de timing.