Dia Mundial do Meio Ambiente: O medo que impulsiona a mudança necessária

Em meio à crise climática irreversível, é o medo, não a esperança, que pode nos levar à ação.

O Dia Mundial do Meio Ambiente é, formalmente, uma data para refletirmos sobre a crise climática que ameaça nosso futuro. As projeções mais otimistas apontam que temos no máximo 11 anos para evitar o aumento de 1,5 graus Celsius na temperatura global; as mais pessimistas falam de um aumento de até 5 graus Celsius. Em qualquer cenário, parte da crise já é irreversível, e a humanidade se vê diante de um futuro em que o planeta pode se tornar inabitável para muitas formas de vida, incluindo a nossa.

Neste cenário, figuras como o presidente Jair Bolsonaro, que minimizam ou negam a emergência climática, brincam com a vida de todos, não apenas das classes mais vulneráveis. Pela primeira vez na história, a espécie humana ameaça sua própria sobrevivência no planeta. As implicações dessa ameaça assumem uma nova dimensão ética, já que não estamos lidando com uma guerra ou com uma catástrofe natural, mas com a destruição causada pelo próprio comportamento humano.

Embora tenha havido momentos históricos de ameaça global à humanidade — como o nazismo, com sua máquina de extermínio, e a Guerra Fria, com o risco da guerra nuclear — nunca antes a humanidade se colocou tão diretamente como responsável pela sua própria extinção. O que torna essa ameaça ainda mais grave é o fato de que ela não é um produto de uma luta externa, mas do nosso próprio modo de vida, marcado pelo consumo desenfreado e pela exploração sem limites dos recursos naturais.

Agora, a única resposta possível é, em primeiro lugar, aceitar que a nossa condição de sobrevivência mudou. A humanidade já está em luto, e o que nos resta é gerenciar os danos causados, minimizando os impactos e tentando evitar que o problema piore ainda mais.

Greta Thunberg, a ativista sueca que se tornou símbolo global das greves pelo clima, tem sido uma das vozes mais claras sobre a irresponsabilidade das gerações anteriores. Com 18 anos, ela já alertava, desde 2015, que a falta de ação dos adultos deixaria um mundo inóspito para a sua geração. Greta rejeita as tentativas de transformá-la em um amuleto de “esperança”, como se sua presença pudesse inspirar uma solução fácil. Em sua visão, o verdadeiro desafio não é esperar por uma mudança, mas agir de forma urgente. Ela diz com clareza: “Eu não quero que vocês se encham de esperança; eu quero que vocês entrem em pânico; e ajam”.

Muitos acreditam que a falta de esperança paralisa as pessoas, mas a história nos ensina que o medo é um grande motivador da ação. Como disse Santo Agostinho, tanto a esperança quanto o medo são manifestações da vontade humana, formas de lidar com o futuro. No entanto, enquanto a esperança nos mantém na inércia, acreditando que tudo se resolverá sem mudanças radicais, é o medo que nos impulsiona a repensar nossas escolhas e alterar o curso de nossas ações.

Hoje, o Dia Mundial do Meio Ambiente deve ser, mais do que uma data de reflexão, um dia de ação. Que seja o dia em que deixemos de lado a falsa esperança e enfrentemos, com o devido pânico, a urgência da mudança. O medo da destruição de nosso próprio planeta é o que pode nos mover para adotar um novo modelo de vida, mais sustentável e responsável, para que ainda possamos ter um futuro possível.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.