O silêncio da imprensa frente à realidade das ruas

Quando a grande mídia omite as manifestações e foca em narrativas economicistas e turísticas, o povo grita nas ruas por mudanças urgentes.

A ausência de cobertura nas grandes capas de jornal sobre as manifestações ocorridas em 29 de maio é mais do que uma omissão—é uma clara escolha editorial que ecoa a mesma tentativa de silenciamento vista em episódios históricos como as Diretas Já de 1984. O jornal O Globo preferiu dar destaque ao crescimento do PIB e à retomada dos investimentos, enquanto O Estadão focou em cidades turísticas se reinventando durante a pandemia. Ambos ignoraram as centenas de milhares de pessoas nas ruas, gritando “Fora Bolsonaro”, e isso não pode ser desconsiderado como uma simples escolha de pauta, mas como uma ação deliberada para minimizar a realidade que o Brasil enfrenta.

A falta de atenção da mídia, que poderia estar cobrindo com profundidade os protestos que demonstraram uma ampla insatisfação popular, expõe um preocupante descompasso entre a realidade e a narrativa veiculada. Isso não é uma simples falha jornalística; é uma traição aos princípios fundamentais da imprensa e ao papel essencial de informar a população em tempos de crise. A grande mídia parece optar por ignorar os apelos das ruas, quando deveria ser sua principal missão dar visibilidade e contar as histórias do povo.

A direita a capa do Jornal O Globo, a esquerda O Estado de S.Paulo, ambas não deram notoriedade aos manifestos de ontem 29 de maio. Foto: Banco de imagens internet.

O movimento de ontem não foi um ato isolado. As pessoas estão nas ruas exigindo respostas para uma crise que se agrava a cada dia. O Brasil, no entanto, segue sem uma resposta efetiva para o combate à pandemia. Enquanto a vacinação avança lentamente—com pouco mais de 21% da população vacinada—o governo federal mantém sua postura negacionista. Sem um plano de isolamento nacional ou políticas coordenadas para controlar a circulação do vírus, a situação é cada vez mais alarmante.

As novas variantes, como a identificada na Índia, já estão no Brasil, aumentando o risco de uma terceira onda devastadora. O especialista Luiz Gustavo de Almeida, microbiologista da USP, alerta que essas variantes estão se tornando mais transmissíveis, o que significa que o Brasil corre o risco de ver a propagação do vírus descontrolada, caso medidas mais rigorosas não sejam adotadas com urgência. Enquanto isso, o governo permanece inerte, e a grande imprensa parece seguir a agenda do silêncio.

A verdadeira tragédia é que enquanto milhões de brasileiros continuam a sofrer, centenas de milhares nas ruas pedem mudanças, e o jornalismo deveria ser a voz que amplifica esses clamores. Infelizmente, algumas das maiores publicações do país parecem mais preocupadas com a manutenção do status quo do que com a denúncia da realidade. A omissão da mídia, que se recusa a dar a devida importância ao que acontece no Brasil, é uma tentativa de ocultar uma crise política, social e sanitária sem precedentes.

Nos próximos anos, quando a história for contada, esses jornais terão de justificar suas escolhas. No entanto, o que realmente importa é o que está acontecendo agora. O Brasil precisa de respostas urgentes para a pandemia, e as manifestações de ontem foram um claro reflexo dessa urgência. A população está se mobilizando, e é essencial que a mídia, em vez de ignorar ou minimizar essas ações, cumpra seu papel de informar, educar e provocar reflexão.

Por fim, a luta continua, e o movimento por um Brasil sem Bolsonaro é mais do que necessário. A vida das pessoas está em jogo, e isso exige ação imediata.

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