Aqui não há isolamento social de fato, vivemos no máximo um conjunto de restrições ao funcionamento de comércio e serviços, controle de grandes aglomerações com restrições a eventos musicais, esportivos, festas, cultos religiosos. Toque de recolher e confinamento do tipo lockdown são pontuais e raros. De todo modo, tudo isso acaba tendo algum impacto na taxa de contágio pela diminuição do tempo de exposição e oportunidades de contato.
O principal modo de isolamento social, que significa ficar em casa e somente sair para atividades inadiáveis, foi desde sempre pela adesão voluntária. Alguns setores conseguiram se organizar para o trabalho remoto, como as aulas ou consultas à distância e muitos outros, popularizando o tal de home office.
Quem zapear pelos canais de TV verá uma série de programas de entrevistas e debates (de esportes, por exemplo) em que parte das pessoas estão transmitindo a partir de suas casas. Sem socorro financeiro por auxílio emergencial, muita gente foi obrigada a sair de casa em busca de sustento em empregos informais se expondo ao vírus e à superexploração.
O índice de 60% ou mais de isolamento ( pessoas em casa) foi considerado como sendo ideal 60%, mas raramente se chegava a 50% e, frequentemente, ficava abaixo de 40%. Outro problema é a forma de medição. Em São Paulo é pela coleta de dados de localização de celular, sem revelar a identidade, pelo critério de estabelecer onde o celular “dormiu” (das 2 às 6 horas). Depois se mede o afastamento, se for até 200 metros, significa que a pessoa está em isolamento. Impreciso, mas útil.
O índice era muito alardeado nos primeiros meses da pandemia, comemorava-se as subidas e lamentava-se as decidas do índice, sempre com uma nota de moralismo e tentativa de responsabilização individual. O fato é que o tema desapareceu do noticiário nos últimos meses.
Vivemos a segunda onda da pandemia, isso é fato e não é, ao mesmo tempo. É fato que a pandemia se desenvolveu desde meados de março/2020, já em fim de maio registrava mais de mil óbitos em um único dia e nos meses de junho a agosto permaneceu numa espécie de platô com média móvel de óbitos próxima a 1 mil. Agosto inicia queda da média móvel que chega a perto de 300 no início de novembro.
Pronto, podemos falar de primeira onda acabando e iniciando a segunda que perdura até o momento (talvez iniciando a terceira?), que foi bem mais aguda, com a média móvel de óbitos chegando a ultrapassar 3,1 mil por 7 vezes no mês de abril deste ano.
Digo que, ao mesmo tempo, podemos dizer que não temos duas ondas, mas arrefecimentos e agravamentos de uma única onda. É diferente da Europa, que em quase todos os países, inclusive os do leste europeu, percebemos ciclos mais precisos e bem definidos em que houve um pico da pandemia e, por medidas duras de controle de circulação das pessoas (é assim que o vírus circula), se derrubou para próximo de zero a taxa de transmissão, média móvel de novos casos e, principalmente, média móvel de mortes.
Na Europa o que acabou ocorrendo é que, depois de medidas exaustivas de isolamento pesado, inclusive com lockdown para vale que deu excelentes resultados, houve um relaxamento brusco que coincidiu com as férias de verão e com a quebra do isolamento da população mais jovem. A chegada de novas cepas completou o processo que configurou a segunda onda.
No Brasil nunca de fato houve de verdade um controle da transmissão, com ações coordenadas, com uma diretriz nacional ponderada com as realidades regionais. É o quadro desde o início que só vem se agravando, em parte pela vacinação que, sendo ainda insuficiente para impactar fortemente a pandemia, é suficiente para uma falsa segurança e relaxamento maior.
Também tem a perda de margem de manobra dos governadores e prefeitos, sem recursos financeiros e sem apoio popular para apertar o cerco ao vírus, e ainda por cima sofrendo todo tipo de pressão, inclusive do presidente e sua guerra obscurantista.
Importante frisar que mesmo a vacinação em massa não tem funcionado isoladamente como elemento de controle imediato da pandemia, como se observa em diversos países como Chile, Uruguai e outros, que tendo vacinação em percentual muito maior que o Brasil, ainda assim apresenta números preocupantes de contágios e óbitos.
Tudo indica que o melhor jeito de controlar a pandemia é combinando o controle da transmissão pelos métodos conhecidos de higiene, máscara e isolamento para que a vacinação possa atuar como medida estabilizadora do surto. A China fez isso, com a vacinação iniciando depois do Brasil, mas com controle da pandemia. O Reino Unido, que em fevereiro deste ano chegou a ter a pior taxa de mortes por 100 mil do planeta, vacinou em massa, mas, ao mesmo tempo, adotou medidas severas de lockdown, derrubando a taxa de transmissão, média móvel de casos e mortes muito rapidamente.
Não seria absurdo ou fantasioso dizer que teremos (ou já estamos iniciando) uma terceira onda, ou o terceiro ciclo da mesma onda de uma pandemia que nos assola desde março do ano passado, pelo simples fato de que vacinação está lenta demais. Seguindo o atual ritmo da campanha, levaremos mais de um ano para atingir percentual capaz de criar imunidade comunitária. Mas aí há uma contradição lógica, pois a demora de se chegar à imunidade coletiva, aumenta as chances de novas cepas mais agressivas e capazes de diminuir ou anular o efeito das vacinas atuais.
Também não se conhece o tempo que as pessoas vacinadas permanecerão imunizadas. Cada vez mais se consagra a ideia de que teria que ter ao menos um reforço no prazo de 1 ano após a imunização completa inicial. Assim a conta não fecha mesmo, pois estaríamos vivendo (aí sim) a primeira onda da vacinação e já teríamos que iniciar a segunda, a de reforço.
Penso que é pedir demais que o vírus entenda nossas dificuldades e pare de evoluir.
NO BRASIL
Registro de mortes hoje: 2.418
Total de mortes: 459.171
Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 1.806
Casos confirmados em 24 horas: 51.545
Casos acumulados na pandemia: 16.392.657
Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 59.500
Casos ativos: 1,500 milhão
Em 132 dias de campanha, pessoas vacinadas: 44,828 milhões (21,17% da pop.)
Em segunda dose, 113 dias: 21,955 milhões de imunizados (10,37% da pop.)
NO MUNDO
Casos: 170,7 milhões
Óbitos: 3.544.20
1º – E U A: 608,9 mil
2º – Brasil: 459,2 mil
3º – Índia: 322,4 mil
4º – México: 222,7 mil
5º – Reino Unido: 128 mil
6º – Itália: 125,9 mil
7º – Rússia: 120,4 mil
Dados JHU (Johns Hopkins University).