A irracionalidade das medidas de isolamento no Brasil e o risco de uma terceira onda

Mesmo diante de uma mortalidade elevada e novos recordes de casos, o Brasil continua a flexibilizar as medidas de isolamento, colocando em risco os avanços no controle da pandemia.

A pandemia de Covid-19 no Brasil tem mostrado um ciclo de medidas inconsistentes e muitas vezes tardias, com as autoridades demonstrando grande indolência na adoção de políticas de quarentena eficazes. As medidas de isolamento, como o famoso “lockdown”, são frequentemente mais faladas do que praticadas, com exceções raras. Mesmo após o pico de mortalidade em abril, que registrou mais de 4.000 mortes em um único dia, as autoridades continuam flexibilizando as restrições, enquanto a vacinação desacelera e o inverno, estação propícia para o aumento de transmissões, se aproxima.

É alarmante a reação da população e dos governantes diante de uma situação em que os números não diminuem de forma significativa. A queda na média móvel de mortes de 3.000 para 2.000 mortes diárias e a diminuição na taxa de ocupação dos leitos de UTI de 90% para 80% não são, de fato, motivos para comemoração. Esses números ainda estão muito aquém do que seria esperado em um controle efetivo da pandemia, especialmente se considerados os números da primeira onda.

O aumento da oferta de leitos de UTI também não é uma solução eficaz, pois muitos pacientes acabam não sobrevivendo, mesmo com o recurso à terapia intensiva. Além disso, a alta demanda por leitos intensivos afeta a qualidade do atendimento, colocando as equipes de saúde em situações extremas de estresse e exaustão. As taxas elevadas de uso de UTIs refletem a gravidade da doença, que, mesmo com recursos adequados, continua a levar vidas.

A falta de medidas rigorosas e a aceleração da transmissão do vírus em um cenário de alta taxa de casos ativos (com 1,5 milhão de casos hoje) indicam que o Brasil está longe de controlar a pandemia. A aceleração do contágio, o ritmo mais lento da vacinação e as variantes do vírus representam sérios riscos à saúde pública. A introdução de variantes mais agressivas do Sars-CoV-2, que podem diminuir a eficácia das vacinas, aumenta ainda mais as incertezas. A descontinuidade da vacinação, com quebras na administração da segunda dose, também contribui para esse cenário de vulnerabilidade.

Infelizmente, o país enfrenta um governo que, ao invés de promover medidas de segurança e conscientização, tem se mostrado mais preocupado com a promoção de aglomerações e com a aceleração do contágio. O comportamento do presidente e de seu ex-ministro da saúde, que participam de eventos sem medidas adequadas de proteção, é um reflexo da irresponsabilidade em momentos críticos da pandemia.

Neste momento, o Brasil enfrenta uma situação alarmante, com números de casos e mortes em ascensão. Sem ações mais incisivas e eficazes, o país está à beira de uma terceira onda da Covid-19, que pode ser ainda mais devastadora. O relaxamento das medidas de isolamento, a lentidão na vacinação e o risco das novas variantes do vírus são fatores que exigem mais urgência na resposta das autoridades.

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