Vamos falar da maior cidade brasileira sem registro de mortes por Covid-19

Um dos temas a que eu sempre retorno é o da interiorização da pandemia de Covid-19 no Brasil. Como sabem, a circulação do vírus se faz com a circulação das pessoas, diferente do que acredita o Onyx Lorenzoni, a transmissão de faz pessoa a pessoa e não por pulgas e passarinhos.

A pandemia saltou de centros populosos, capitais e litoral para o interior e cidades medias e pequenas, muito rapidamente Em julho já eram mais de 90% dos municípios com casos registrados e em dezembro 100%. A transmissão passou a ser não mais dos centros para os interiores, mas passou a acontecer no fluxo inverso, contribuindo assim para uma realimentação (efeito bumerangue e efeito sanfona) da subida de casos e mortes.

Quanto às mortes confirmadas, hoje somente 71 cidades não têm registro, pouco mais de 1% dos 5.570 municípios brasileiros. Via de regra são cidades com população bem reduzida, em média pouco mais de 3 mil habitantes. Mais precisamente, 63 dessas cidades tem menos de 5 mil moradores e apenas uma tem mais de 10 mil.

É a cidade de Bonito de Minas/MG (14,4mil habitantes), norte de Minas, na divisa com a Bahia. E como a cidade consegue esse feito? Não bolsonaristas, não foi com nebulização de cloroquina em massa e nem com tratamento precoce com o kit covid.

Bonito faz bonito com política de atenção básica, dividindo a cidade em 5 distritos em que equipes da saúde fazem visitas, cuidam dos doentes, identificam suspeitas de casos e fazem rastreamento de contato, além de atuarem em educação em saúde. Coisas do SUS.

As ações são coordenadas por um comitê interdisciplinar que define medidas, como a de fechamento do comercio em caso de subida do número de contágios. Inventaram os fiscais de fila, uma equipe que atua monitorando o movimento no comércio e bancos, orientando para que não haja aglomeração.

Mas tem estratégias da equipe são mais sofisticadas. “Infiltram-se” em grupos de WhatsApp, atuando no combate a Fake News e passando informação de qualidade. Também há a presença nas redes sócias e um grupo de “zap” que até mesmo recebe denúncias sobre aglomeração. A PM de lá, diferente de outros lugares, presta apoio às ações de saúde.

Bonito de Minas criou uma espécie de cultura sanitária, uma consciência social de cuidado e autocuidado e a orientação do modelo de atenção à saúde adotada pelo poder público foi fator determinante. E antes que perguntem, ser cidade pequena ajuda nisso, mas não explica e é só ver a quantidade de cidades muito menores que já a meses tem casos de morte registrados.

A experiência sanitária do SUS poderia ter sido apoiada de forma muito mais ampla, podendo transformar as pequenas e médias cidade do país em barreiras para o avanço da pandemia. Cidades com pulações menores e com dinâmicas sociais mais estáveis poderiam ter funcionado como diques para o avanço do vírus.

Sabemos que isso não aconteceu, sabemos o porquê. Mas, para além de serem exemplos (quase pitorescos frente à realidade esmagadora), experiências exitosas servem de parâmetro para se avaliar o quanto foram negligenciadas, tanto as orientações da OMS, como a nossa própria experiência de construção de saúde coletiva.

Insisto que o negacionismo tem sua face mais crua no bolsonarismo genocida, mas vai além. Não podemos nos iludir e nem ficar contente com pouco.

Atenção – Apesar da estabilidade da média móvel de mortes e óbitos, há um aumento bem expressivo do número de casos ativos da doença, sendo a primeiro dia que passa de 1,4 milhão.

NO BRASIL

Registro de mortes hoje: 1.764

Total de mortes: 448.291

Média móvel de mortes nos últimos 7 dias: 1.920

Casos confirmados em 24 horas: 70.345

Casos acumulados na pandemia: 16.046.501

Média móvel de novos casos nos últimos 7 dias: 65.127

Casos ativos: 1,467 milhão

Em 126 dias de campanha, pessoas vacinadas: 41,831 milhões (19,75% da pop.)

Em segunda dose, 107 dias: 20,573 milhões de imunizados (9,72% da pop.)

NO MUNDO

Casos: 167,9 milhões

Óbitos: 3.475.200

1º – E U A: 603,9 mil

2º – Brasil: 448,4 mil

3º – Índia: 299,3 mil

4º – México: 221,3 mil

5º – Reino Unido: 128 mil

6º – Itália: 125,2 mil

7º – Rússia: 118,1 mil

Dados JHU (Johns Hopkins University).

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