Pesquisas indicam uma grande disparidade entre os casos confirmados e o número real de infectados, além de evidenciar as desigualdades sociais ampliadas pela pandemia.
Em um estudo recente realizado na cidade de São Paulo, cerca de 42% dos adultos foram identificados com anticorpos contra o Sars-CoV-2, o que significa que aproximadamente 3,5 milhões de pessoas já tiveram contato com o vírus, podendo ter desenvolvido sintomas leves ou permanecido assintomáticas. Este dado destaca a grande discrepância entre os números oficiais, que registram pouco menos de 762 mil casos confirmados até o momento, e os números projetados pela pesquisa, revelando que o total de infectados pode ser até 4,6 vezes maior do que o informado oficialmente.
A Falta de Testagem em Massa
O estudo revela uma falha significativa nas ações de combate à pandemia, especialmente na identificação de infectados e na adoção de medidas de quarentena específicas. Atualmente, os testes são realizados predominantemente em pessoas sintomáticas que buscam os serviços de saúde, quando a prática ideal seria a testagem em massa. Países que mais testaram, como alguns da Europa e Ásia, têm realizado um número de testes superior à sua população total, adotando estratégias de testagem periódica. Em contraste, São Paulo realizou menos de 1/3 dos testes necessários, uma situação que limita a capacidade de controlar a propagação do vírus.
Desigualdades Sociais Evidenciadas pela Pandemia
Outro dado alarmante do estudo foi a soroprevalência mais alta em bairros mais pobres, com destaque para pessoas de menor nível de instrução e para aqueles que se autodeclaram pretos e pardos. Esses números confirmam que, como em muitas outras crises sociais, a pandemia tem exacerbado as desigualdades sociais. A falta de acesso a cuidados médicos adequados e a menor possibilidade de adoção de medidas preventivas são fatores que contribuem para esse cenário.
Além disso, o estudo também aponta para o aumento da soroprevalência entre a população adulta, com um salto de quase 1 milhão de novos casos entre a primeira rodada da pesquisa, realizada em janeiro, e a atual, em abril. Este aumento ocorre apesar da chegada da vacinação, o que indica a persistência da transmissão comunitária, muitas vezes não identificada devido à insuficiência de testes.
A Realidade das Crianças e Jovens
Embora a pesquisa tenha sido focada em adultos, é fundamental lembrar que pessoas com menos de 18 anos também adoecem e podem transmitir o vírus, o que aumenta ainda mais o número de infectados. Embora a pesquisa não possa ser realizada em crianças por questões éticas, elas continuam a ser um vetor importante na propagação do vírus, o que eleva a preocupação sobre o controle da pandemia.
Testagem Insuficiente e o Negacionismo
A falta de testagem foi uma das marcas da gestão da pandemia pelo governo federal, que, ao longo do tempo, adotou posturas negacionistas e desconsiderou a necessidade de testagem em massa. A imunidade de rebanho defendida por autoridades sanitárias e governamentais sem o devido respaldo científico acabou facilitando a propagação do vírus. A ausência de rastreamento de contatos e o não cumprimento de medidas de distanciamento social contribuíram para o colapso dos sistemas de saúde e para o aumento das hospitalizações.
Além disso, a chegada de novas cepas do vírus e o risco de reinfeções aumentam as probabilidades de uma segunda e até uma terceira onda de contágio mais agressiva, especialmente em um cenário onde a testagem e o isolamento adequado dos casos continuam a ser negligenciados.
O Impacto Global e Nacional
No Brasil, as estatísticas refletem um cenário crítico: 2.136 mortes em um único dia, com um total de 446.527 óbitos até a data do estudo, além de 77.598 novos casos de Covid-19 em 24 horas. A média móvel de novos casos é alarmante, ultrapassando os 64 mil casos diários. A vacinação segue de forma lenta, com 41,5 milhões de pessoas já vacinadas, o que representa cerca de 19,64% da população.
No cenário global, o Brasil ocupa o segundo lugar em número de mortes, apenas atrás dos Estados Unidos, com 446,3 mil óbitos registrados até o momento. Esses dados reforçam a necessidade urgente de uma ação coordenada e eficaz para o controle da pandemia, especialmente em países com grandes desigualdades sociais e estruturais, como o Brasil.
A discrepância entre os dados oficiais e os resultados da pesquisa realizada em São Paulo evidencia a fragilidade das ações de combate à pandemia no Brasil. A falta de testagem em massa, o negligenciamento das políticas públicas voltadas para a saúde e a exacerbação das desigualdades sociais durante a crise sanitária são fatores que dificultam o controle da doença. O estudo reforça a necessidade de medidas mais eficazes para enfrentar a pandemia e proteger a população, especialmente os grupos mais vulneráveis.